PALA DE SEDA

Apparício Silva Rillo

 

meu velho pala de seda

com meio palmo de franja!

Contrabandeado da estranja

para enfeitar meu assombro.

Quando te atiro nos ombros

numa manhã de domingo,

de faceiro o meu pingo

mal e mal pisa no chão,

e não há neste rincão

onde te exibo vestido,

pinguancha passarinheira

que lá por dentro não queira

vir afagar-te o tecido...

 

Meu velho pala franjado,

pano pra todo o serviço!

Botei muito rebuliço

contigo envolto no braço

e uma adaga de bom aço

passarinhando na mão.

Te esparramava no chão

no exato feitio de um leque,

e quando o índio moleque

pisava sobre teu pano,

eu dava um grito de - "Arreda!"

e ao grotesco de uma queda

ria o rincão meio ano...

 

Quanto recuerdo dos buenos

não guardas, pano de lei!

Eu mesmo ao certo não sei

qual terá melhor memória.

Talvez aquele da história

da china ruiva do povo

que num baile de Ano-Novo

quis ver a lua comigo...

E então, ao discreto abrigo

da sombra larga do oitão,

meu velho pala franjado

foste o leito improvisado

desse noivado pagão!

 

Depois que abraço a chinoca

e ao trote retorno ao pago,

tu vais tremendo ao afago

de um ventinho buliçoso.

E o teu patrão, orgulhoso

como é feitio de um rapaz,

pra não olhar pra trás

- mais entonado que um Deus -

te afrouxa e vais padejando,

pachola e louco, acenando

teu triste e último adeus!