NO BOLICHO

Apparício Silva Rillo

 

Traga de vez a garrafa,

bolicheiro! me despacha,

que hoje no mais se emborracha

quem nunca se emborrachou.

Quero beber no gargalo

para esquecer o pialo

que o tal de amor me atirou.

 

Sou índio duro de queda

mas fui pegado de jeito.

Bateu-me a argola no peito

e ali no mais me planchei.

Sempre fui solto de pata

mas nessa volteada ingrata

num tacurú tropecei!

 

Sucede que eu não sabia

quanta manha se requer

pra se correr com mulher

na cancha reta do amor.

Desci confiado pra raia...

Perdi pro rabo de saia

sem sair do partidor!

 

Caí no tiro de laço

de um olhar de china atrevida,

que embuçalou minha vida

na armada negra das tranças,

pra depois de ter-me preso

marcar-me com seu desprezo

na picanha da esperança.

 

Desprezo não há quem cure,

não há remédio que impeça,

não há, nem promessa

que lhe conserte o estrago.

Por isso, seu bolicheiro,

pra aparceirar o primeiro

ponha no mais outro trago!