MADRUGADA
Apparício Silva Rillo
No poncho morno das cinzas
dorme o fogo de galpão.
Ao escasso calor de seus
carvões
a cuscada se entrevera com os peões
partilhando uma sobra de pelego.
- Vai pro diabo excomungado!
Enquanto o guaipeca,
atarantado,
se amoita pra outro lado
fazendo volta e meia,
um peão vai bombear se já clareia
a barra vermelha
da saia do céu.
- Tá na hora, pessoal!
Lava a cara na gamela de água
fria,
seca as mãos ao comprido da melena.
Põe erva no porongo, aviva o
fogo,
cutuca forte um índio dorminhoco:
Levanta, cara de louco!
E enquanto chia a cambona
coberta de picumã,
emponchada no brilho da alvorada,
boleia a perna dona Madrugada
para abrir a cancela da manhã...