LÍNGUA DE TRAPO
Apparício Silva Rillo
Deixa de ciumeira, china
boba...
Tai meu lenço.
Seca esta lágrima quente
que riscou no moreno de teu rosto
esta sanga salgada e cristalina.
Vamos deixar de fita, minha
china.
Mulher pra vir no jeito do
meu gosto
não deve mostrar no rosto
o que vai no coração.
Atenta bem pro que eu digo:
- este teu pranto é o castigo
por não confiares em mim.
Nisso é o que dá
tua fé nos enleios da vizinha
- essa velha matraca
que é venenosa que nem jararaca
e é linguaruda que nem tamanduá.
A língua dessa velha, minha
china,
corta mais que dentada de traíra.
Ela enfeita tão bem uma
mentira
- mas enfeita tão bem! -
que se eu estivesse junto da bruaca,
ouvindo ela mentir a meu respeito
era capaz de até bater no peito
e bem no fim acreditar também!
Eu reconheço,
chinita,
sou meio retouçador,
talvez um pouco gaudério,
mas porém sou índio sério,
buenacho e trabalhador.
Seca o pranto, deixa disso,
nunca quebrei compromisso,
muito mais sendo de amor...
Só imagino
quanta coisa ruim não te contou
essa velha com cara de carancho!
Mas eu tenho confiança no
destino.
eu acredito na sorte, minha china,
e sei que um dia a minha boa sina
vai trazer-te, faceira, pro meu rancho.
Deixa de sestro, chinita...
Desapresilha o sorriso, tas
me ouvindo?
Deixa essa velha continuar
mentindo,
não vai atrás do que essa velha diz.
Eu te juro,
chinita, de pé junto,
por minha honra e por meu pai
defunto
que só contigo eu posso ser feliz!