I
As
estrelas pediram,
pediram
um espelho
pra
Nosso Senhor.
O
Senhor, surpreendido,
estranhando
a pedido
chamou
por Maria.
As
estrelas pediram,
pediram
um espelho
pra
Virgem Maria.
Maria,
tão boa!
Cortou
do infinito um pedaço do céu,
de
um pedaço de céu ela fez a lagoa.
Ficou
um buraco no forro do céu,
chamando
Maria, lhe disse o Senhor:
-
Remenda o meu céu, que a idéia foi tua.
Maria,
sorrindo, rasgou o seu manto
e
pregou no infinito o remendo da lua.
II
Lagoa!
Sesmaria
de águas claras
deitada
nos pedregulhos.
Espelho
grande onde as estrelas tolas
vem
ajeitar o véu de lantejoulas
durante
a longa procissão noturna.
Quando
o sol da manhã tu te incendeias,
uma
orgia de penas te enfeita as areias
e o
silêncio se quebra a um concerto e pios.
A
quietude das águas
nas
praias mais rasas,
se
encrespa de gozo ao buliço das asas
fazendo
tremer os teus juncos esguios.
Gamela
onde bebem, os bichos do campo
nas
praias sombreadas por salsos-chorões.
Gamela
de barro,
de
pedra e areia,
tão
cheia de água,
tão
cheia de juncos,
tão
cheia de flores
azuis
de aguapés...
Lagoa
noturna, salão das estrelas,
lagoa
de luz, várzea grande de sol.
|lagoa
dos salsos e das corticeiras,
lagoa
onde mora
o
martim-pescador.
Lagoa
das lontras e das ariranhas,
lagoa
dos peixes e dos jacarés
que
brutos e rudes, armando carrancas,
espreitam
as garças - tão tristes, tão brancas!
-
que cismam em silêncio sobre os aguapés.
III
Lagoa
do campo,
pedaço
de céu!