INTERMEZZO DE ROSA

Apparício Silva Rillo

 

Rosa de carnes maduras

na mais lindice de si.

Sonho e cama inalcançados

pelo bolso de trocados

de campeiros e guris.

 

Rosa de riso aferido

por quilates de anéis,

vagalumeando o apelido

"Rosa quinhentos mil réis".

A de poucos escolhidos

- doutores e bacharéis

de nome e plata fornidos

e na cancha dos sentidos

potranca de coronéis.

 

Seu beijo por um champanhe,

por um perfume francês.

Para os lençóis o eleito,

um por noite, cada vez.

Champanhe, perfume e macho,

trindade do mesmo cacho,

falsificados, os três.

 

Cruzam borrachos na noite

com seus cadeados de dedos

a encarceirar-lhe segredos

de antepassadas sabenças:

- "Esta inxerida o que pensa?

Quem te viu e quem te vê!

Sedas, renda e purpurina,

mas ainda a mesma china

nas entranhas de você..."

 

A inveja rói-lhe a estampa

e o olho grosso a corrói.

Alerta, Rosa se benze

contra a lança do despeito

que sente roçar-lhe o peito

e sem que a fira, lhe dói.

 

Bate o relógio da sala.

São horas do coronel!

Seu dia, e Rosa se aflita:

ai que com outro lhe apanhe!

Quebra-luz,

taça e champanhe,

alma de angústia e fel.