DEVANEIO
Apparício Silva Rillo
Chininha reponta um sonho
na lonjura ensimesmada
de mais um domingo igual.
Chininha encomprida os olhos
que se confundem - tão verdes!
ao verde do pastiçal.
- Por que o peito me buliça?
Chininha assim se pergunta
quase sabendo a resposta.
Num pedacito de espelho
Chininha indaga o destino
- Será que o João não me
gosta?
Madruga um sorriso esquivo
só olhar, no olhar tão verde
que se entrefecha ao mormaço.
- Ai, um dia...ai,
um dia
João me leva - sei pra donde!
na garupa do picaço!
Ai, se o pai adivinhasse,
ai, meu Deus, se a mãe soubesse
do beijo que o João roubou!
Quando estourou a carreira
todo mundo olhou pra cancha,
menos João...João não olhou.
Chininha sonha acordada
mordendo a ponta da trança
do lado do coração.
E o laçarote da trança
fazendo cosca nos lábios
parece a boca do João...