CUSCO CEGO

Apparicio Silva Rillo

     

      Este cusco brasino, cara branca,

      pequenote e rabão,

      que o parceiro está vendo enrodilhado

      aí perto do fogão,

      foi mordido de cobra na paleta

      quando troteava atrás de uma carreta,

      cruzando um macegão.

 

      Resultou de tal manobra

      que o veneno dessa cobra

      cegou meu cusco rabão!

 

      Faz um tempão

      que se deu esse tropeço...

      Dava pena, no começo,

      ver o cusco, atarantado,

      pechar de frente e de lado,

      chorando como um cristão.

 

      Agora,

      vagueia solitário pelo pátio,

      perdido nessa noite sem aurora

      que um dia lhe desceu sobre a retina.

      Por isso,

      quando a noite se embalsama de perfumes

      e os pequenos e inquietos vaga-lumes

      acendem lamparinas nos brejais,

      eu maldigo a injustiça do destino

      quenao ouço o uivo triste do brasino

      chorando a lua que ele não vê mais.