CANHA

Apparicio Silva Rillo

Canha,

és a chinoca ruiva mais acesa

que jamais gauderiou pela campanha.

Para encontrar-te

basta bater à porta de um bolicho,

desses que a gente encontra em qualquer parte,

que brotam em qualquer chão

como erva ruim.

 

Oferecida e fácil,

por qualquer meia pataca já te entregas.

 

Já te encontraram dormindo – quantas vezes!

Dormindo nas macegas,

juntinho à camisa suja

de muito crioulo escroncho!

 

Tens especial preferência

pelo aconchego de um poncho.

 

Nas horas mortas

das longas noites de ronda,

com teu beijo incendiado reconfortas

o índio sofrido e rude

que te sabe sem virtude

mas que te quer, mesmo assim.

 

Andas na boca do poço

como toda mulher de vida alçada.

Mas total, que vale a fama?

Vale nada...

Quanta gente não há que te difama

sem piedade,

quando a mais pura verdade

é que em segredo te ama?

 

Tens o dom da ubiqüidade,

china ruiva.

Estás ao mesmo tempo na cidade

- `as vezes disfarçada noutro nome,

mais pedichona no vestido novo –

e ao mesmo tempo na campanha

- mal pilchada, sem retovo –

mas sempre a mesma china ruiva e louca,

andeja e sem pudor,

que se deixa beijar por qualquer boca

e não refuga amor!