A FILHA PATRÃO
Apparício Silva Rillo
Meu
coração tafuleiro
se abichornou, certo dia,
trampeado na simpatia
pela filha do patrão.
Mas porém não lhe arrenego,
meu coração foi um cego
guiado pela ilusão,
que não mediu a distância
de um amor de dona de estância
pra um bem-querer de peão!
Como
o destino capricha
quando desanca um infeliz!
Eu
mesmo trouxe o juiz,
o sacerdote, o escrivão,
que uniram pra eternidade
certo moço da cidade
e a filha do meu patrão.
Que
festa! a noiva bailava,
e eu no sereno chorava
por vê-la rir no salão!
De
tudo quanto sucede
no meu viver de índio pobre,
dou jeito pra que me sobre
o que há de bom na lição.
Cada
qual no seu rodeio,
apartando do seu meio
quem lhe entenda o coração,
sem nunca pôr esperança
na flor que a mão não alcança
-
como a filha do patrão!