PRELÚDIO PARA O CANTO ALEGRETENSE

Antônio Augusto Fagundes

 

Eu já nasci gauderiando:

como filho de perdiz,

fui dono do meu nariz

descasquei - disparando!

Meio solito ou em bando

Escolhi os rumos que quis.

 

Caí no mundo correndo,

Procurando, olhando, vendo,

tratando de ser feliz

sem fazer mal a ninguém,

sempre buscando, porém,

a tal de Felicidade.

 

Sei que ela existe à vontade

em algum canto por aí.

 

Saí do meu Inhanduí

e virei o mundo do avesso!

meio grosso no começo,

me afinando mais no fim,

porque a vida é sempre assim,

tem alegria e tem dor,

tem violência e tem amor,

tem guerra e também tem paz,

quem vence é o mais capaz.

 

Quem nasceu pra ser senhor

não será escravo jamais.

 

Atrás da felicidade

me fui a grande cidade

como uma abelha na flor,

buscando estudo e verdade

sempre escolhi professor

me deram anel de doutor!

 

Foi lindo mas não foi tudo

queria mais que o estudo,

queria, a felicidade.

Será que ela mora longe?

 

Busquei paz na religião,

eu não nasci pra monge

mas gosto da comunhão.

 

Andava meio perdido,

dando volta sem sentido,

mas sempre voltando aqui,

aprendendo com as crianças,

renovando as esperanças

dos meus tempos de guri.

 

Outra vez o Inhanduí!

 

Ah, querência, como dói,

ser bandido e ser herói,

ser beija-flor e gavião:

na mão esquerda e no peito

a forma do amor perfeito

na cuia de chimarrão

e a forma, menos perfeita,

da arma na mão direita

impondo juízo e razão.

 

O importante é voltar

o importante é amar!

foi assim que envelheci...

o meu amor está aqui

nesta terra neste chão,

na forma de um canção

que brota do coração

como perfume na flor.

 

Por grosso e encabulado

eu não sei falar de amor

mas é preciso falar,

é preciso até gritar,

vencer o encabulamento.

 

Agora, neste momento,

a minha voz eu reclamo

e aos quatro ventos proclamo

gritando alto e sem medo

o que nunca foi segredo:

Alegrete, eu-te-amo!