VELHO TIO
Albeni Carmo de Oliveira
Teus olhos meu velho tio,
São como janelas para o
mundo,
Onde me paro num segundo
Ao olhar a humanidade.
Que em louca ansiedade
Nunca notarão o que tu viu:
Primavera, verão e frio
Geada, tormenta e saudade.
Saudade daquele tempo
Que transportavas ilusões,
Saudade das emoções
E brincadeiras na infância.
Tudo ficou na distância
Hoje é outra a realidade,
A vida aqui na cidade
Não é a mesma da estância.
Teus cabelos branquearam
Como a grama macia,
Que a geada da vida judia
No inverno do sofrimento.
Vive em ti cada momento
De um horizonte sonhado,
Que as glórias do teu estado
Não caia no esquecimento.
Meu tio velho, vejo em ti,
Um centauro das coxilhas
Como que apontando trilhas
De um novo amanhecer,
E esta ânsia de vencer
Cada luta que apareça,
Para que o teu Estado cresça
Sem nunca esmorecer.
Os teus braços velho tio
São como figueiras do pago,
Onde se busca o afago
De sombra para a sesteada.
Tua face já enrugada
É como espelho para mim,
Tua voz como um clarim
Que soa na madrugada.
Tuas mãos cheias de calos
São como cerne de angico,
Onde olhando horas fico
Admirando-te com paciência,
E vejo na tua existência
Do pago a filosofia,
Que surja o sol da alegria
No amanhã da querência.
Meu tio tu és a figura
De um pai, irmão, professor.
És uma canção de amor
Num canto de entardecer,
És cacimba de saber
Onde a sede é saciada,
És clarão na madrugada
Que jamais vou esquecer.
Tio velho tu corres, brincas,
Recordas velhas histórias.
Conta as derrotas, vitórias
Alegra-te em nos receber.
Por isso ao escrever
Esta homenagem simplória,
Rogo a Deus eterna glória
Por deixar-me te conhecer.