REVENDO O QUE PASSOU
Albeni Carmo de Oliveira
Aqui me tens novamente
Terra que um dia deixei;
Por muitos lugares andei
Por força da profissão.
Mas digo: - meu coração
Quase parando batia,
Quando bem de longe eu sorvia
O amargo da recordação.
Cada dia que passava,
Longe de ti minha cidade
Crescia mais a saudade,
De tudo que aqui deixei.
Se Deus sabe o que passei
Nos lugares onde vivi,
Por isso não resisti
E p'ra minha terra voltei.
Voltei para rever os campos
Onde corri em criança;
Rever sonhos de esperança
Dos maus tempos de guri.
A casa onde eu vivi
E um velho pé de pitanga,
Voltei pra rever a sanga
Onde pesquei lambari.
Eu vim para ouvir de novo
O cantar da passarada,
Vim ver a velha estrada
Onde a boiada passava
E de longe eu avistava
O vulto de algum tropeiro,
Vim ver o grande terreiro
E a sombra da ramada...
Mas o progresso chegou
Muito embora lentamente,
E não vi mais na minha frente
Tudo o que eu aqui deixei
Todos esses
anos esperei
Para rever-te de novo,
Mas até o costume do povo
Diferente eu encontrei.
O campo virou lavoura
E a sanga se envenenou.
A pitangueira secou
Não tem pássaros a cantar,
E eu fico a me perguntar
Sem encontrar solução:
Se é mais forte a ambição
Onde o homem quer chegar?
Eu sei que isso é progresso,
Mas é bom sempre alertar;
Não devemos exterminar
O que Deus deixou por Lei.
Pois se hoje aqui voltei
E me senti surpreendido,
Não me sinto arrependido
Mas confesso que chorei!