NATAL DO PIAZITO ÓRFÃO

Albeni Carmo de Oliveira

 

Era noite de Natal

A festa da cristandade,

Porém longe da cidade

Sem o badalar do sino,

Chorava um pobre menino

Escondido em um galpão,

Pois tinha em seu coração

Marcas de um triste destino.

 

Eram marcas que o tempo

Não consegue apagar,

E o piazito a chorar

Aliviava seu tormento.

Mas nesta noite um pensamento

Estava lhe castigando,

E ele ali estava buscando

Respostas para sua mente,

Porque ele um inocente

Estava ali soluçando...

 

Se na cidade a festança

Alegrava a tanta gente,

Se os grandes estavam contentes

E a criança sorria,

Se esta imensa alegria

Que a tantos contagiava,

Porque só ele chorava

Magoando triste e calado,

E se o presente esperado

Para ele nunca chegava?

 

Será porque ele era

Um órfão, um abandonado,

O tal Papai Noel falado

Nunca dele se lembrou?

Se um dia ele escutou

Na casa da grande estância,

A velha preta Constância

Que aos patrõenzinhos falava:

Que no Natal ele viajava

Fosse qual fosse a distância.

 

É, mas parece que para ele

Era tudo diferente,

Se até os próprios parentes

Lhe deixaram abandonado,

No mundo ficara jogado

Que se criasse à vontade,

Afinal para a sociedade

Que importava este teatino?

Se ele era outro menino

Fruto da desigualdade.

 

E embora piazito novo

Humilde e trabalhador,

Sentia as chagas de dor

Que sofre um piá abandonado.

E às vezes por mal cuidado

Por não receber carinho,

Segue por outro caminho

Que nunca será o correto

Pois como é importante o afeto

Para alguém que está sozinho.

 

Por isso que naquela noite

O sono não lhe chegava,

E quanto mais ele pensava

Nas injustiças da vida,

Mais e mais doía a ferida

Que lhe fazia chorar

E para desabafar

Aquele seu sofrimento,

De mãos postas ao firmamento

A Deus começou a rezar...

 

Reza, piazito, reza

Na tua santa inocência,

Reza para que nesta querência

Haja amor e liberdade,

Reza para que haja igualdade

Dos tais direitos sociais,

E que os homens, estes mortais,

Se conscientizem afinal

E selem a paz universal

Para não chorares mais!...