LAÇADA DE UM OLHAR
Albeni
Carmo de Oliveira
Eu sempre fui gaudério
E quando parava na estrada
Era para alguma sesteada,
Ou beber água em vertente.
Me deparo num repente
Com o olhar de uma China,
E tombo de relancina
Já não sou mais o valente.
Quando o olhar desta prenda
Parou em mim um segundo,
Me senti o dono do mundo
Sem mais em nada pensar,
Até que quis disfarçar
Mas me fiz um prisioneiro,
Eu que sempre fui campeiro
Fui num olhar me enredar.
Pelos potreiros da vida
Passei sempre mui gaudério,
Mas neste olhar de mistério
Estanquei meu redomão.
Ficou de rédeas no chão
Quem nunca fora domado,
Agora ali alquebrado
O meu pingo redomão.
O seu olhar refletia
Desejos de mil amores.
Um jardim cheio de flores
Com orvalho de carinhos,
Eram os próprios caminhos
Que sonhei trilhar um dia,
Era grande sinfonia
No cantar dos passarinhos.
Naquele olhar encontrei
Uma cacimba encantada,
Era a própria alvorada
No amanhecer do meu eu.
Rio dos sonhos que correu
Ao oceano da alegria,
Era a própria poesia
Escrita que ninguém leu.
Por isso jamais esqueço
Este olhar que me laçou,
Só na lembrança ficou
este mistério guardado.
E onde tenho passado
Procuro ver outra vez,
Aquele olhar que me fez
Um eterno apaixonado.