JOÃO NINGUÉM

Albeni Carmo de Oliveira

 

Com o progresso chegando

Dia-a-dia sem parar,

Com máquinas a empurrar

Do campo o trabalhador,

Eu vou sentindo uma dor

Como o JOÃO que é um bravo

E aos poucos se torna escravo

Do tal de computador.

 

O pobre JOÃO fica olhando

Onde o homem quer chegar.

Pois deram para provocar

A ira da natureza...

Destroem tanta beleza

Que Deus para nós deixou.

Gente que a terra arrasou

Só pensando em riqueza.

 

E por pensarem assim

Vão destruindo a si mesmos,

Pois quanta gente vive a esmo

Que não tem nem mesmo o pão.

E outros só na diversão

Vão gastando o que não tem,

E o pobre do JOÃO NINGUÉM

Enriquecendo o Patrão!...

 

Tem gente que gasta horrores

Numa noite de folia,

Depois é uma correria

Para arrebanhar um vintém.

E o pobre do JOÃO NINGUÉM

Fica quietinho, chuleando

E para Deus sempre rezando

Que não lhe logrem também.

 

O conforto é muito bom

E dele todo mundo gosta,

Mas eu busco uma resposta

P'ra minha gente gaudéria;

Pois a coisa fica séria

Com este monte de invenção,

E quem não tem o "carvão"

É renegado à miséria.

 

Quem não pode comprar máquinas

Ou tirar financiamento,

Passa um baita sofrimento

Para cultivar o chão.

Uns abandonam o rincão

Como fez o JOÃO NINGUÉM,

Vendem o pouco que tem

P'ra trabalhar de peão.

 

E o homem vai subindo,

Conquistando o Universo

Mas para mim que escrevo verso,

E vejo a vida dos dois lados

Desculpem se estou errado,

Afinal, gasta quem tem

Mas eu não gasto um vintém

Comprando o tal enlatado.

 

São tantas as novidades

Que surgem no dia-a-dia,

E até se torna mania

Comprar tudo que é invenção.

Mas o pobre do JOÃO

Que ganha salário minguado,

Chega ficar assustado

Com a tal evolução.

 

Mas quem é o JOÃO NINGUÉM?

Tem gente que nem conhece;

Pois às vezes ele aparece

Sorrindo alegre e contente,

Não sei se ele tem parente

Para lhe dar uma mão,

Mas o JOÃO, pobre do JOÃO

Vive no meio da gente!...