ÊXODO RURAL

Albeni Carmo de Oliveira

 

Pobre campeiro que um dia

Deixou a querência amada,

Empreendeu outra jornada

Em outra terra diferente.

Só ele sabe o que sente

Desde que dela partiu,

No povoero se sumiu

Plantando outra semente.

 

É a semente do concreto

Que ele não conhecia.

E o tal progresso que um dia

Le cabresteou para a cidade,

É a tal vida sociedade

Que um dia sonhou lá fora,

E como lhe explicar agora

Os direitos de igualdade?

 

Que igualdade que nada

Se nem onde morar tem,

Se para ganhar um vintém

Ele derrama seu suor.

E o que lhe causa pavor

É quando pede por clemência,

Nas filas da Previdência

E ninguém lhe dá valor.

 

Se ao menos reconhecessem

O muito que ele contrói,

É a ferida que mais dói

No seu peito já cansado.

E quando lembra o passado

Cheio de sonhos e esperanças,

De que reinasse a bonança

Nos quatro cantos do Estado.

 

Por isso que ele plantava

Com graça e dedicação,

Mas veio a evolução

Com máquinas em quantidade;

E empurraram p'ra cidade

O braço do trabalhador.

Que um dia teve valor,

No vigor da mocidade.

 

O que adianta ser honesto,

Humilde e trabalhador?

Se bem poucos dão valor

Para ti velho caudilho,

Se teu cabelo já tordilho

Vai mostrando tua idade,

E tu pensas com ansiedade

No futuro de teu filho...

 

Assim aquele que um dia

Laçou potros campo fora;

Também teve que ir embora

Buscando uma nova vida.

E hoje em uma avenida

Passa um vulto apressado,

Talvez com o peito lotado

De esperanças perdidas!

 

Ali passa mais um taita

Que um dia foi plantador;

Foi ginete e laçador

Tinha o braço rude e forte,

Mas que um dia de tal sorte

Tornou-lhe um desgarrado,

E assim velho e já cansado

Só espera chegar a morte!...