LONGE DA QUERÊNCIA
Adelar Borges Padilha
Puxa que vida maleva
Me reponta a existência
Viver longe da querência,
É vida sem solução,
Hoje apenas, acaricío o
chimarrão
Dando beijos de esperanças
Afugentando as lembranças
Que me embretam o coração.
Eu, quando em tempo de piá
Piazito xucro e mui guapo,
Gotas de sangue farrapo
Foi minha primeira herança.
Depois então peão de estância
Quando fui ficando moço
Ganhei um pingo bueno e
colosso
Para os fandangos e
festanças.
Tudo o que no verso eu digo
Tive na vida campeira,
Poncho, chapéu, boleadeiras,
Tirador couro de pardo,
Chilenas com cabrestilhos bem
largos
Charqueadeira prá o
churrasco,
Água da fonte sem asco
E também o mate amargo.
Hoje só existe os recuerdos
Daquela vida passada,
Oigalê! Vida folgada
Bem rude, e xucra à vontade
Onde aqui na cidade
Se vive na confusão,
Com apitos de fábricas
Buzinas de autos e caminhões
Estou preso sem liberdade.
Cidade não é pra nós
Criado em lidas campeiras,
Trabalhando nas mangueiras
Acordando as madrugadas,
Lidando nas invernadas
E sentindo o minuano
Vento sul nos sussurrando
Lendas de muitas tropeadas.
Mas a vida é assim mesmo
O destino que é gaudério,
Uns são cheios de mistérios
Com alegria ou tristeza,
Eu tive a grande fraqueza
Deixei meu pago e minha gente
E me bandiei de repente
Pra outra querência sem
beleza.
Pedi pro patrão do Céu
Que me conceda o perdão,
Por ter deixado o meu chão
Solito e abandonado,
E vim me dar aos costados
Na cidade das ilusões,
Que só deixa corações
De campeiros palanqueados.
Sonhei que fui na querência
E senti o aroma das pitangas,
Que tomei água na minha sanga
E que encilhei o meu pingo,
Que vi o meu cusco latindo
Pelos campos campereando,
Acordei meio chorando
De um sonho que foi tão
lindo.
Tornei a ficar tristonho
E me aumentou a saudade,
E nesta hora senti vontade,
De acabar com esta ausência,
Pois, se um dia eu puder
Pra minha terra voltar,
Eu quero chegar e beijar
O próprio chão da minha
querência.
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Poema da coletânea de Poesia
Gaúcha:
“Uma Tropilha
de Versos na Querência”