QUADRILHA DE SONHOS

Alex Brondani e Gilson Parodes

 

Nos caminhos dos meus dias 

Me ajustei e vim formar,

Uma quadrilha de potros

Pros meus sonhos encilhar.

Quatro cavalos de almas livres 

Pelo pasto a galopar,

Ventas abertas contra o vento, 

Crinas soltas a revoar.

 

São quatro parceiros de monta, 

Companheiros do mesmo trilho,

Nem tão dóceis, nem tão ágeis, 

Nem tão mansos pro lombilho.

Um é o potro baio, outro é o ruano, 

O terceiro é um mestiço tordilho,

E o mais arisco, o potro mouro, 

Que nem mesmo eu encilho.

 

São quatro sonhos para a vida,

 Quatro destinos, quatro ventos,

Quatro cavalos redomões, 

Cada qual com os seus talentos.

 São libertos das amarras 

De um laço de doze tentos,

Para galopar na invernada 

De um ano que passa lento.

 

O primeiro desses potros 

Que sonhei para a minha encilha,

Foi o potro baio encerado, 

Outono pelas flechilhas.

Mas nem um tiro de laço 

De doze braças faz presilha

Às folhas esparsas ao vento

Pelas várzeas e coxilhas.

 

O meu tordilho mestiço 

De todos é o mais bravio,

Deixa tordilha as coxilhas,

Torna mais lento o rio.

É o inverno que se apresenta, 

Soturno e cheio de brio,

Dos quatro sonhos que tenho 

É de longe o mais hostil.

 

O mais suave de boca,

Que gratifica a espera, 

É o meu potrilho ruano,

Que alimenta esta quimera. 

Traz junto o cheiro das flores, 

Por onde a beleza impera,

É o sonho da esperança,

O meu potro primavera.

 

O potro mouro traz na testa 

O simbolismo cristão, 

A estrela que guiou tropas

 De rincão para rincão.

Traz, no fechamento do ano, 

O sonho da salvação,

De todos é o mais ligeiro, 

E é chamado de potro verão.

 

Nesta quadrilha de sonhos, 

Cada um tem a sua essência,

 Para achar o lado da monta 

É preciso calma e paciência.

São potros que vão e voltam 

Nos potreiros da querência,

Cada ano é uma invernada

Para forjar nossa existência.