MEUS PINGOS DE LEI

Candido Brasil

Gaúcho flor de campeiro,
assim nasci e me criei,
tendo meus pingos de lei
na forma, o tempo inteiro,
meu primeiro companheiro
de cavalgata pacata,

que não aceitava bravata
e acelerava no trote,

firme sobre o serigote,
foi a perna do meu tata.

 

Cresci piazito taludo

na dura lida de campo,
me grudava feito grampo
no lombo de um crinudo,
fui ginete macanudo

dos que grudado não cai,
carrapato que se vai

peleando ao Deus dará,
meu melhor pingo de piá
foi o pescoço do meu pai.

 

Nesta infância campeira
lidando com redomão,
de rédeas firme na mão
tropeio a tarde inteira,
de a cavalo na porteira
sentando espora e porrete,
sou jóquei e sou ginete
voando alto do chão

ou na pista do galpão

galopando cavalete.

 

Quanta tropeada malina

com firmeza na alcatra,

na ponta ou na culatra

numa troteada teatina,

vendo o esvoaçar da crina,

sentindo o vento na cara

na estrada que escancara

o ofício de tropeiro,

numa tala de coqueiro

ou pedaço de taquara.

 

Vivo em cima dos arreios

equilibrando o espinhaço,

soltando tiro de laço

em pelados de rodeio,

deixo mascando no freio

meus pingos de ocasião:

um tonel meio cilhão,

o cachaço e o carneiro,

o cabrito e o terneiro,

que comem na minha mão.

 

Assim vivo na estância

tiflando a campo fora,

o tirim da minha espora

faz eco pela distância,

marcas da minha infância

são meias luas que deixei

gravadas por onde andei,

sem nunca levar um tombo

enforquilhado no lombo

destes meus pingos de lei.