A INFÂNCIA
ALCANÇA NO ESTRIVO
Matheus
Costa
A infância alcança no estrivo, logo que acordam os galos... ...
enquanto um braseiro vivo acorda o
dia, em estralos.
Clareia escuros profundos que a
madrugada guardava
com a “pontezuela”
do mundo, que é o brilho da estrela D'alva!
Deixa alpargatas de lado, surradas
pelos caminhos...
...põe botas cano dobrado, esporas sem
ter espinho;
Cuida a geada por um vão, sem sair do rancherio...
...depois de “pisá”
o rincão, não há silêncio e nem frio!
A infância alcança no estrivo, logo que encilha, assoviando...
...compreendendo algum motivo do tempo
que vai passando;
Vendo que a vida é uma estrada, com
atalhos e segredos,
que a gente encontra a cruzada só
quando “salta” mais cedo!
Com o cabresto na mão, sai pelo galpão
da alma...
...cuidando com o coração, o que a
vista vê sem calma;
A pele nova da infância, ainda não tem
cicatriz,
mas traz marcas que as estâncias
registram num aprendiz!
E a montaria da infância, é um pingo
de toda lida...
...com pata para as distâncias, apuros
e recorridas;
Tem os cascos já curtidos, refeitos
quando quebrados,
como nossos pés sentidos dos primeiros
machucados!
A infância para rodeio na invernada da
saudade,
com perguntas pelo meio sobre terrunhas verdades;
Erra conta e revisada, apura o cavalo
em vão...
...mas a
falha é uma jornada que dá rumo à perfeição!
E esses ventos cruzadores de grotas,
sangas e matos...
...pra infância são senhores de
conselhos tão exatos!
Varrem ciscos extraviados das taperas
da incerteza...
...e sopram ternos recados da mais
genuína presteza!
E o tempo – o mesmo das horas de ditar
algum porvir –
vai cuidando campo afora, a infância
se despedir;
Feito um capataz antigo que, num ponto
passageiro,
vê indo embora um amigo e o melhor dos
seus campeiros!
A infância alcança no estrivo, rangendo bastos no lombo...
...que o sonho é sempre cativo de quem
não padece ao tombo;
A idade vai sujeitando destino e
outras andanças...
...e a gente – mesmo mudando – fica
sempre a ser criança!
Por isso, quando a infância insiste
alcançar no estrivo,
recorro à velha importância que em dia
nenhum esquivo:
...Se existe um guri com pressa, à
galope a camperear,
há um homem – sempre às avessas –
sereno, a desencilhar!