DÉCIMA DA PEDRA ANTIGA

Rômulo Chaves

 

Era um tempo antigo

Eram homens da terra

Eram tropas de guerra

Sem a paz por abrigo

Me dói quando eu digo

Destas coisas que penso

Mas, aí me convenço

De que há importância

Em vencer a distância

E quebrar o silêncio...

 

Na sobra de ruína

Que o tempo vê em pé

Misto de amor e fé

Da gesta campesina

Imagens que as retinas

Não conseguem guardar

O misticismo do lugar

O apego a este chão

Que o índio do rincão

Conhecia por seu lar!

 

Nessa mesma construção,

A pedra está firmada

Na missão quase sagrada

De memória da nação

Não pulsa qual coração

Não fala e não sente

Mas, aí, que de repente

Quisera até saber

O que ela ia dizer

Se falasse com a gente...

 

O quanto testemunhou,

A pedra missioneira

Que a gesta pioneira

Escolheu e emparedou

Sobre o muito que restou

Havia outras tão iguais

Que o suor dos ancestrais

Pela redução terrena

Empilhou, a duras penas,

Pra história, pros anais!

 

Quanta prece foi erguida

No interior da Catedral

Onde o silêncio habitual

Até parece ganhar vida…

A história não dá a medida

De tanta angústia guardada

E morenice violada

Na tez da inocência...

Chorou a querência,

A pedra não fez nada!!

 

No silêncio, reflito:

- Que, pedra, me reconheço -

Pelo tempo, envelheço

E pouco tenho dito

Muitas vezes, me omito

Não vou além da visão

Não luto por meu quinhão

Não busco meu direito

Silencio no meu peito

Qual pedra da redução...

 

Não basta testemunhar

As coisas que vão e vem

Precisa ação, também

Pra o que quero transformar

Se a morte vai me levar

Lá, na hora que acontecer

Não quero me arrepender

De não ter dito o certo

De não ter descoberto

Real motivo pra viver...

 

Por isso, venho mudando

Meu jeito e sentimento

Revelo meu pensamento

Com critério, vou andando

Ouço, mas, sigo opinando

Marcando meus ideais

Pois, não quero, jamais

A frieza que silenciou

Velha saga que abraçou

As pedras das Catedrais...

 

Cada qual pode escolher

Durante a jornada que faz

Gritar por guerra ou paz

Ludibriar ou merecer...

Cada gesto vai dizer

Cada pegada denunciar

Por onde foi caminhar

O taura, com suas ânsias,

Se fez grandes distâncias,

Ou nem saiu do lugar... 

 

Não sei se vou conseguir

Mas, importa a tentativa,

De guardar, sempre viva,

Minha vontade de seguir

O dom bendito de sorrir

A voz mansa da cantiga

A paz, por minha amiga,

Diferenciando, afinal,

Do silêncio tão brutal

Que mora na pedra antiga!!