A
LENDA
José
Luiz dos Santos
A história tem sua lenda,
toda lenda seu mistério;
relatar é um critério,
a gosto da maioria.
Também a Maçonaria,
dá valor ao seu escrito;
alegoria do mito,
independe da Potência;
reafirma a existência,
pode ser em qualquer rito.
Feito causo de galpão,
nas noites frias do pago;
quando o sabor do amargo,
aquece o peito do peão,
vindo daí a lição,
que mostra o rumo da estrada.
Um clarão na madrugada,
pra quem não anda sozinho;
e seguir o seu caminho,
até o fim da jornada.
Era uma grande fazenda,
o patrão, justo e perfeito.
Se tudo andava direito
qual seria seu segredo?
Feito conto sem enredo,
foi despertando atenção;
entre o ciúme e a razão,
o liame é muito fino,
dando vazas ao destino,
no sacrifício de irmão.
Hiram, era
o capataz;
fora escolhido a dedo,
índio guapo, andando alpedo,
sempre na justa medida.
Cada um com sua lida,
cada qual com seu salário,
três classes de operários,
com toques, gestos, sinais,
que nivelam desiguais
nas tarefas do “Santuário”.
A peonada satisfeita,
construindo a sede nova,
quando um “cuera” se
retova
pra reclamar igualdade.
Mesmo sem capacidade,
arrumou mais dois parceiros,
formou trio de traiçoeiros,
que não tem merecimento,
pra arrancar o juramento
do mestre, aos companheiros.
Tocaiaram o chefe Hiram,
lá na invernada do fundo;
nesse ato injucundo,
tentando saber porquê,
que tudo estava a mercê,
mediante uma só palavra,
que era da sua lavra,
e só o patrão que sabia;
em sua simbologia,
abre até o chão, quando escarva.
O homem de pura cepa,
com estirpe de gaúcho,
foi aguentando o repuxo,
mas não “afroxou” o
garrão.
Mesmo atacado a traição,
co’os
golpes da soiteira;
não será dessa maneira,
que o taura vai se
entregar,
e a terceiros revelar,
o que guardou, vida inteira.
Segundo e terceiro golpe,
de adaga e cabo de mango;
como num passo de tango,
sentiu dobrar o jarrete.
Co’a vida por um filete,
mantém a boca fechada,
porque a Palavra Sagrada,
não se entrega nem assim,
e mesmo estando no fim,
é dever manter guardada.
Mercê de tanta violência,
a morte chegou depressa;
o que era uma promessa,
transformou-se em desatinos.
Os, agora assassinos,
vendo frustrado o intento,
unidos em pensamento,
buscaram o corpo esconder,
para ninguém perceber,
funesto acontecimento.
Sentindo falta do Mestre,
o Patrão tomou tenência;
por certo que sua ausência,
a todos era sentida.
Mandou parar toda lida,
reunindo a comitiva,
numa busca cansativa,
pelos montes e campinas,
nas matas e casuarinas,
a situação aflitiva.
Doze “buenos” cavaleiros,
numa busca incessante,
em meio ao sol escaldante,
ou entre neblina e chuva.
Eis que’os
“filhos da viúva”
encontraram finalmente,
um sepulcro diferente,
no florido pé de acácia;
quando clareia a falácia
da morte covardemente.
Por fim, honroso velório,
e enterro no campo santo;
a Virtude, sob o manto
Da Verdade e Temperança.
A verdadeira mudança,
extraída da mortalha,
de quem venceu a batalha,
na busca da perfeição,
pra honra de Salomão,
quando escolhido, não falha.
Uma lenda pra ser lenda
precisa falar de morte;
aquele que sabe o norte,
dita o rumo da tragédia.
No tomo da enciclopédia,
se vê estampado o exemplo.
Na construção do seu templo,
o homem morre também,
vai renascer como alguém,
que internamente, contemplo.
Toda morte é necessária,
para obter vida nova;
quando a lenda põe à prova,
a vida e sua finitude.
A mudança de atitude,
que nos fará mais humanos,
porque os ambientes profanos
nos agridem dia a dia,
vivendo a lenta agonia
do mundo e seus desenganos.
Pois, se assim procederes,
buscando dentro de si,
então eu direi a ti:
“Serás Justo
e Perfeito,
poderás bater no peito
e dizer, sem sacrifício:
-Cavei masmorras ao vício,
ergui templos a
virtude,
sou maçom na plenitude,
ser pedreiro é meu ofício”!