Serafim, Ponto Final
Adão Quevedo
Acharam
Serafim morto,
sangrando
de solidão,
Sexta-Feira
da Paixão...
Chora a tarde... Jaz o corpo.
Num
casebre de madeira,
no
arredor da cidade...
Silenciou
o arrabalde,
enlutando
a sexta feira.
O seu
cachorro ovelheiro
velava
o corpo, solito,
como
se esperasse o grito:
De...
“Vamu simbora, parceru”!
Suicídio...
Comentaram...
Pois
tinha um furo no peito!
Solitário,
sobre o leito...
Foi
assim que lhe encontraram.
Triste
a solidão de um homem
campeiro,
longe da lida...
Quem
perde a fome da vida,
feito
vela...se consome.
Tinha
cavalo e charrete,
pingo
que foi montaria...
Magro,
já sem serventia,
nem
parece o antigo flete.
Num
armário de parede,
uma
panela com fome...
Na
ferrugem se consome
o
balde louco de sede.
Os
pelegos encardidos,
mango
e laço ressecados...
Um par
de botas furado,
marcado
a ferro de estribos.
Ficaram
duas esporas
com
ganas de gineteadas,
um
chapéu aba quebrada
pendurado
numa escora.
Sempre
de bota e bombacha,
lenço
rubro no pescoço...
Era
bom jogando osso,
melhor
na cancha de bocha.
Numa
cova pra indigente
de
um cemitério afastado,
o
ovelheiro do lado,
Serafim, se foi pra sempre.
O baiozito ruano
ficou
pastando na volta...
Estes
dois vão sentir falta
dos
carinhos do seu Dono.
Não
virá nenhum parente
nem
padre pra extrema-unção:
Serafim
era pagão...
A vida
lhe fez descrente.
Numa
cruz feita a machado...
- duas
datas, nenhum nome -
Ali
jaz um pobre homem
pelo
campo abandonado.
Pode
ser que algum vivente
cuide
cavalo e cachorro,
num
derradeiro socorro
pra
quem partiu de repente.
Pode
ser que alguma china,
destas
meio sem juízo...
Leve
flor ao falecido
n’alguma
tarde esquecida.
Era
mais um exilado...
Arrancado
da raiz,
para
morrer, infeliz,
numa
vila... amargurado.
Foi
corajosa e brutal
a
morte deste sujeito...
No
cerne rude do peito...
Escreveu:
– Ponto final.