Estrivo

Adriano Alves

 


Ainda te espero...

No outro lado dos caminhos,

Na outra face da saudade

Na mesma voz dos silêncios.

 

Ainda te espero, meu igual,

Pelo tempo, pelos ventos,

Pela vida...

 

Fomos, meu igual, a sombra repetida

Entre a luz do sol refletida

E a delicadeza contida

Na pele esguia dos pastos.

 

Fomos, sim, os repetidos passos

Nas distâncias grandes

De horizontes largos

E destinos derramados

Pela paciência do andar.

 

Vivemos e dividimos

Cada flor, cada espinho

E a aurora dos “descaminhos”

Nascidos das noites grandes

Onde os sonhos vão adiante

E a alma ganha semblantes

De esperas e recomeços.

Eu e tu, por companheiros

Eu e tu, num mesmo espelho

Que a aguada tornava um.

 

Meu igual, alma em comum

Em cada “abraço” sentido

Em cada olhar dividido

Entre o campo e os silêncios

Aromas, geadas e lenços

De acenos brancos e rubros

E os delicados sussurros

De amores, matos e sangas.

 

Meu igual, a vida anda...

E o tempo segue seus passos

E nossa sombra nos pastos,

Não soube lhe acompanhar;

Cansada, quis se apagar

E, hoje, só  resta  lembrar

O que a razão não esquece

E cada sonho repete

No puro olhar da saudade...

 

Saudade, meu igual,

Saudade dos nossos passos

Da nossa sombra nos pastos

Nosso chão, nossos caminhos

Das distâncias, dos espinhos,

Dos horizontes, estradas...

 

Saudade a minha, guardada

Junto aos silêncios, por dentro

De tocar o céu dos ventos

Depois de ter teu abraço.

 

Hoje, meu igual, falta um pedaço

Parte de mim, o teu aço

O teu olhar sensitivo

Hoje,  encontro motivos

Lagrimados e sentidos

Que caem da prece dos olhos

E formam a simples imagem

Igual na forma da aguada...

 

Eu e tu,  por companheiros

Eu e tu, num mesmo espelho

Eu e tu, apenas um;

E esta saudade comum

Reinventando as distâncias,

Os aromas, as fragrâncias

Das flores, do chão, dos pastos.

 

Nossa sombra, nossos passos

Minhas botas, pés descalços

O teu aço, teu abraço

Teu destino, tempo antigo

Meus silêncios, sensitivos

Eu e tu, por companheiros

Eu e tu, num mesmo espelho

Eu e tu, apenas um...

 

Ainda te espero

No outro lado dos caminhos

Na outra face das saudades

Na outra voz dos silêncios...

 

Ainda espero teu abraço,

Meu igual...

Meu par de estrivos...