Caine
Teixeira Garcia
Nestes silêncios de barro e pedra
Pelos "adentros" de mim,
padeço...
Há na incerteza, que vinga e medra
lalvez a herança do que mereço!
... Teus sinos calam, verdade e espera
que
são a história, assim, do avesso...
Em teus guardados, os memoriais
Contam a senda dos
ancestrais
gritam
o passado, a cobrar seu preço...
Os casórios desses joões-barreiros
- Fortins erguidos com pena e suor
São como os sonhos de tantos "guerreiros"
que de
sua alma, deram o melhor...
Guardam anseios, de quem primeiro
fez
desta pampa, um lugar maior...
Pontas de lanças e imagens tantas
são
testemunhas, nesta terra santa
de
uma luta insana, que semeou a dor...
Entre os umbrais que te permeiam
Escuto vozes... em tons de conselhos!
Pra o índio incréu, meros devaneios
mas
eu sei que a elas me assemelho...
Sou como as almas, que aqui andejam
- Irmãs antigas, deste chão vermelho!
Sempre fui terra, entre várias vidas...
Ao retornar agora, pra lamber feridas
minhas
memórias me põem de joelhos!
Ainda marcado pelas circunstâncias
eu
jamais vergo nestes descaminhos!
Peão sem chão, não tenho estância
nem
sou afeito a muitos carinhos...
Mas guardo minha fé, nesta constância
de
buscar meu "eu" mover moinhos...
Tenho a firmeza das tuas paredes
Em tuas entranhas, mato minha sede
espírito
livre, que retorna ao ninho!
Nestes silêncios, de barro o pedra
O dia cansa e, enfim, adormece...
E quando de novo, ele encantar a lua
talvez
o sul ainda me encontre em prece...
Respiro a magia em tua fortaleza...
Quem sabe os sinos, algum dia, à frente
vão
além das vozes que ninguém traduz...
E gritem à pampa, o que a tua semente
deixou de
legado, aos olhos da cruz
e
de novo dobrem, pela nossa gente
que
ainda sonha um tempo do luz!
A todos fascina este povo lendário
que
bradou coragem pelos campanários
e que
ao próprio tempo, até hoje seduz...
Quantos "Sepés"...
e quantos avós!
Sei que sou parte da tua natureza
mesmo
em ruínas, não me sinto só...
Gritam os de antes, não há voz presa
hei
de orgulhar-me de voltar ao pó!
Nesta simbiose entre homem o terra
me
alimento do que em ti encerras
e
o coração já se desfaz dos nós...
Braços me abraçam... vejo a cruz silente
há
sal nos olhos, a nublar-me o olhar
há
o tempo algoz, que não se ressente
das
dores que trago... deste meu pesar
o
solo sangra, o homem ainda mente
sobre
o que os livros não irão contar...
Não há limites para os sentimentos
nem
para as razões que pateiam dentro
do
quem traz missões no seu andejar...
Minh' alma índia rompeu as fronteiras
buscando
a benção n chão guarani...
Linhagem "gaucha", estirpe guerreira
alma do campo, a liberdade em si!
Seguiu o grito das vozes campeiras
e de
todo sagrado, que emana de ti!
Me fiz
coragem pra singrar querência
atendi
apelos do minha consciência
sei
bem quem sou e ao que sobrevivi!
Nestes silêncios, de barro c pedra
ecoam missais - e minha oração
... sem boleadeiras mas pronto pra guerra
a
esperança me estendeu a mão.
Quero em teu barro, poder renascer
e
em tuas pedras, ter meu alicerce
sei
que um novo tempo ira acontecer
onde
o amanhã, ao ontem reconhece...
De tanto ver a pampa amanhecer
Aprendi que a noite, as dores recrudescem...
...mas sonho caciques juntando se a mim
Prá
um novo embate, que bem lá no fim
reescreverá meu sul, como ele merece!
Nestes silêncios, de pedra e barro
há
um ritual de entrega, onde me fortaleço
vendo
o que prezo e que me é tão caro
sei
que a justiça errou de endereço!
Ao meu povo índio, hoje me agarro
e
a ele dedico minha reza em terço
fecho meus
olhos - já não há rancor
deixo
a “cruzada" sem nenhum temor
deixo
a matéria e, enfim, adormeço!