O ocaso deu "- oh de casa!", sem
nem eu ver de onde vinha..
Chegou bem mais que montado, mas sequer se
apresentou;
Quando notei, fui tomado de assombros e ladainhas
em urna prosa
mesquinha com quem jamais me escutou.
O ocaso que me consome não vem em sombras,
escuros...
Não pousa nos horizontes, nem anoitece a
amplidão;
Parece um palinha branco, não tem passado ou
futuro,
impondo a cor de seus muros em forma de cerração.
O ocaso vai se mostrando nessas paredes
barreadas
com agouros de coruja, cavando valas de adeus...
Redemunhando esperanças das flores
despetaladas
talvez lembrando as pegadas de rastros que não são meus.
O ocaso chega jorrando seus ecos de
sanga morta,
sussurros
desencontrados num vau que o sonho não cruza;
Desenrodilha seus laços, espalha trancas nas portas
em uma
infância que volta à minha mente confusa.
Não tenho espelhos na alma pra refletir o passado,
só
um desenho borrado, gemendo de sede e fome;
E uma roldana rangendo,
puxando a febre do balde
no
poço de uma saudade que não tem sangue nem nome.
Em volta as mãos se oferecem... ofertam
água, comida...
Carinho, amparo, guarida, que já nem sei se mereço;
Ah como é estranho esse preço que o tempo cobra, impreciso ,
me
presenteando sorrisos de rostos que não conheço!
Tem uma velha senhora que nunca sai do
meu lado,
me
dá comida, me abraça, com toda calma e ternura;
Quando me deito, ela deita do outro lado da cama
e
quando diz que me ama, transforma dor em doçura.
Não me recordo da moça que chega tão sorridente,
tem um nome diferente, de algum livro que já li;
Ah moça tão perfumada, que me traz doces, poesias...
Mil mares eu cruzaria pra um dia lembrar de
ti!
E tem um mocito guapo, que ao ver meu
mate lavado,
me
pergunta preocupado se a água não esfriou;
Capricha outra cevadura e vem matear ao
meu lado...
Por que esse moço entonado me chama sempre de avô?
Tem sempre alguém resmungando que eu rezingo, que eu caduco,
que
conto as mesmas histórias de um tempo que já passou;
Mas afinal o que querem? Esperam que eu fique mudo?
Como vou lembrar de tudo se nem me lembro
quem sou?
Dois cuscos que eu não recordo,
um
gato que desconheço,
paisagens
sem endereço e um desatino total;
Eu finjo que estou tranquilo frente
a esse mal que agonia,
pois
sinto o bem que me guia no ventre do temporal.
O ocaso segue costeando a minha alma faminta
de
respostas, de lembranças, das minhas noções de Deus;
De quem serão esses rostos que habitam meus labirintos?
Onde estarão os tijolos daquilo que já
fui eu?
Mas meu ocaso é
tão claro, não tem resquícios de breu...
Me sinto
frágil, pequeno, mas nem de perto um covarde!
Quando ele chegar contando que a vida já anoiteceu
me
encontrará versejando seus olhos de
fim de tarde!
Pois todo o sol que ainda arde no céu da alma é poesia...
A minha mente clareia nas bênçãos do que restou:
as
mãos da velha senhora, a moça, o mocito guapo
e a
cor de uns poucos retratos que o tempo não desbotou.
A doença que toma o corpo ao certo não verga a alma
e
sobrevivo no ninho do mais sublime pendor;
Não lembro de rostos, nomes, das tantas
fontes que bebo.
Mas vivo do que recebo e o que recebo é amor!