CANTIGAS PARA MEU POVO TRENTINO
Adriano Medeiros
Bem ali junto das pedras das aguadas
cresceu e se criou cada dia mais forte.
Com uma formação de lei muito antiga
Onde era possível ver sua genealogia.
O povo era de força e talento para o trato
e acreditavam ser sim este o seu norte,
Prosperar, lutar e viver todos os dias,
eram as palavras de ordem desejadas.
Vigorosos qual a terra nova que recebiam
sabiam que tinham que aplicar sua faina
para receberem em troca os frutos maduros,
e “su i monti” eles viram o sol a brilhar
com mais graça para os que sabem sim
dizer amém para a vontade de Deus.
Uma nova pátria era o que eles tinham
para poder fazer o melhor entre os seus.
O mato cerrado deu espaço à brotação
Depois da coivara laboriosa veio à lida,
a lavoura nova era tudo de mais sagrado
pois o seu provento era cuidado com zelo.
Para matar a fome que sempre rondava
e não permitia que a vivência prolongasse,
homens e mulheres se lançaram ao campo
sem nunca deixar de sonhar com o melhor.
A noite grande com seu manto de nuvens
vinha açudada para derramar o orvalho
e deixar o seu beijo marcado nas vinhas
que partiam os cachos de rubi escarlate.
Com o
aroma doce e imaculado do néctar
era possível buscarem suas lembranças
o gosto do sumo bebericado por todos
na antiga e boa terra deixada para trás.
Ao fim da lida retornavam para o rancho
pau a pique coberto de palha para o sono.
os scandoles foram cedendo o espaço
para as casas definitivas que ali nasciam.
As pedras dos beirais foram perfiladas,
as encostas ganhavam abraços de pinho
e os telhados mandavam um sinal gris
com a boca fumegante das chaminés.
Nos porões aglomeravam mantimentos
junto com a palha de milho e a graspa,
e o frio ali se arranchava para dormir
sem dar importância para o restante.
Já no sótão era tudo muito diferente
a cama com as suas cobertas grossas
era o ninho da visita que se achegava
trazendo a boa nova de plagas distantes.
A casa como um todo, tinha alma...
Que quando se encontrava silente e só
enchia o seu ventre com a luz do dia
ou então com ventos profanos do sul.
O fogão era o coração sempre pulsante.
pelos postigos fugiam dialetos e cantigas
e as portas eram escancaradas em honra
ao clamor efusivo das familias festivas.
A tabatinga amarela tomava conta das paredes
deixando uma cor pobre, porém marcante
pisos brutos e móveis eram feitos a capricho
para o uso direto daqueles que ali viviam.
As tinas eram povoadas de tempo em tempo
e repisadas para liberai o liquido esmaecido
e as pipas sempre gordas e borrachonas
vertiam o vinho já
maturado pelo trato.
Ao longo da linha transitória entre as vilas
Amanheciam homens de mãos calejadas
Forcejando com muita felicidade e orgulho
Para levantar as paredes do templo sagrado.
Erigidas em ofertório as graças alcançadas
Para depois receber com toda a fé e presteza
Seus ilustres párocos que traziam a reza
Para povoar as almas destes imigrantes.
E as mulheres se colocavam de joelhos
por clamor e devoção ao santo milagreiro,
orações balbuciadas e terços nas mãos
para agradecer a polenta no prato de todos.
O fervor religioso e a vigília nas noites
acompanhavam os nascimentos difíceis,
e quando vingava mais um da família
e em nomes santificados eram batizados.
As vacas tambeiras entregavam o apojo
no desjejum com
bolo de milho fumegante,
e sempre era festa no dia a dia de todos
que viam a existência qual uma dádiva.
Os bois de canga eram parceiros de lida
e entregavam a sua força em irmandade
para o trabalho braçal dos homens rudes
que esperavam a terra frutificar o labor.
O seu Zé mascate por vezes aparecia
trazendo fumo, charque e belos tecidos,
Carregando sempre nos alforjes das malas
Tudo que poderia vender por ali na vila.
Quando partia levava outros produtos
banha, toucinho, queijo e o bom vino
para entregar no armazém lá de Caxias
ou mais além nas bandas da capital.
A Nona sempre lidando com a dressa
chapéus e cestos usados no cotidiano
que se vince, o pur si muore dizia ela
Já do alto de sua sabedoria maternal.
E todos levaram consigo o dito sagrado
Sem nunca perdera a esperança buenaça
Fortalecendo o sorriso e a comunhão
de uma prole que insistia em viver ali.
No foccolári sempre
guardavam o calor
da brasa viva qual esperança madrugadeira
onde todos os dias se reuniam os de casa
para as conversas recebidas e empolgantes.
No dialeto vêneto com um tom de alegria
sempre usado até pela boca dos novos
que escutando muitas histórias remotas
citaram memórias novas e tempos antigos.
E com o talento do nosso povo italiano
a vida se fez morada nas cidades da serra
nunca mais deixaram o torrão gaúcho
pois ali eles foram cada dia mais feliz.
Na mescla gloriosa que cresceu altiva
Com uma marca timbrada na vontade,
nunca perderam as lembranças de lá
porém sempre vivendo o futuro daqui.
Por honra e por amor ao povo trentino
levamos mais longe uma terna cantiga
que embala as lembranças adocicadas
de um tempo que nunca há de morrer.
Sabemos que os imigrantes são irmãos
do nosso povo aguerrido aqui do sul
em uma saga reiuna que nunca encerra
cantamos a Merica, Merica, Merica!