Andarengo

 

Cândido Brasil

I

Foi o ponto de partida: O rincão.

Da epiderme verdejante das campinas

e o colorado do pó das estradas de clhão,

mosaico de cores que levei nas retinas...

 

Sorvi amargos verdejos no chimarrão,

senti aromas silvestres pelas narinas,

em devaneios de recuerdos e ilusão,

nas noites tristes de solidões teatinas...

 

Abri paisagens de invernos aos manotaços,

buscando calor de prosa, pelegos e abraços,

na ilusão febril de que isto me bastava...

 

E cada voz que sentia tudo que quisera,

cheio de nada, o peito velho tapera

em invernada de angústia se transformava...

 

II

Andarangueando deixei o que havia - sem ter:

A benção dos pais - raiz dos ancestrais - meu rincão,

a lida campeira, minha razão de ser,

campo e lavoura, calor de fogão em galpão...

 

Abri porteiras em caminhos de prazer,

arando glebas com o arado da paixão,

sem querer plantar, no intuito só de colher,

e o sal dos olhos foi ao coxo do coração...

 

A cincha dos sonhos aperta e segura,

mas dependendo do peso e da Ionjura

se frouxa no mais e num upa escorrega.

 

E por mais bueno que seja o pingo emoção,

na estrada longa e impiedosa da razão,

chega num ponto que sofrena e se entrega.

 

III

 

Nas geografias cruzadas colhi matizes,

sonoridades, aromas, calor e frio.

Trancei mil tentos de amizades felizes

e a cada trecho andado me via vazio...

 

A falta de não sei que gerou cicatrizes;

busquei a volta num tranco novo e macio,

que era velho, cru, de profundas raízes,

adormecido no peito em eterno cio.

 

Numa rodada linda e de força brusca

senti o gosto doce do final da busca

que disparou na invernada o coração...

 

O que busquei sem saber encontrei por fim

preso no brete da consciência dentro de mim.

Foi o meu ponto de chegada: O rincão.