Andarengo
I
Foi o ponto de
partida: O rincão.
Da epiderme verdejante das campinas
e o colorado do pó das estradas de clhão,
mosaico de cores
que levei nas retinas...
Sorvi amargos
verdejos no chimarrão,
senti aromas
silvestres pelas narinas,
em devaneios de
recuerdos e ilusão,
nas noites tristes
de solidões teatinas...
Abri paisagens de
invernos aos manotaços,
buscando calor de
prosa, pelegos e abraços,
na ilusão febril de
que isto me bastava...
E cada voz que
sentia tudo que quisera,
cheio de nada, o
peito velho tapera
em invernada de angústia se transformava...
II
Andarangueando deixei o que havia - sem ter:
A benção dos pais
- raiz dos ancestrais -
meu rincão,
a lida campeira,
minha razão de ser,
campo e lavoura,
calor de fogão em galpão...
Abri porteiras em
caminhos de prazer,
arando glebas com
o arado da paixão,
sem querer
plantar, no intuito só de colher,
e o sal dos olhos foi ao coxo do coração...
A cincha dos
sonhos aperta e segura,
mas dependendo do
peso e da Ionjura
se frouxa no mais
e num upa escorrega.
E por mais bueno que seja o pingo emoção,
na estrada longa e
impiedosa da razão,
chega num ponto que sofrena e se entrega.
III
Nas geografias
cruzadas colhi matizes,
sonoridades,
aromas, calor e frio.
Trancei mil
tentos de amizades felizes
e a cada trecho
andado me via vazio...
A falta de não
sei que gerou cicatrizes;
busquei a volta
num tranco novo e macio,
que era velho,
cru, de profundas raízes,
adormecido no peito em eterno cio.
Numa rodada linda e de força brusca
senti o gosto doce do final da busca
que disparou na invernada o coração...
O que busquei sem saber encontrei por fim
preso no brete da consciência dentro de mim.
Foi o meu ponto de chegada: O rincão.