MASCATE DA ESPERANÇA

Joseti Gomes

Escutem!!!

É o apito do trem!!!

Corram!!! Corram!!!

 

Aqueles que tinham pressa

em saber das novidades

se debruçam sobre as malas,

que estão de bocas abertas sorrindo

tal qual o Chico,

o mascate da esperança...

São tecidos coloridos...

São objetos dourados...

E são os sonhos pintados

nos olhinhos das crianças...

 

Parte de malas vazias...

Volta de malas recheadas...

Traz brinquedos diferentes

e pinturas que embelezam

as mocinhas da cidade,

que enfeitam as janelas,

na espera desses moços

que usam águas de cheiro

trazidas pelo mascate...

 

Eu viajo em tua mala...

Eu parto sempre contigo...

Eu vivo de ser mascate

e vender especiarias

que não existem nas vilas...

Trago aromas com sabor...

Trago rendas importadas

e papéis para os segredos,

escritos nas lindas cartas

que se fazem perfumadas

pra revelar um amor...

 

Eu sou também o mascate

desbravando o mundo inteiro...

Vendo fiado e anoto,

num caderninho de bolso,

as somas do meu dinheiro...

No chapéu guardo as lembranças

de cada estação que chego,

e no relógio dourado

marco o tempo onde descanso

pra depois partir de novo...

 

Conheci muitos lugares

e culturas diferentes...

Conheci o mar imenso

com seu vestido rendado,

dançando sob o negrume

do céu de manto bordado...

Conheci alguns meninos

que não usavam sapatos,

pois voavam pelos galhos

de ninhos pouco habitados...

 

Falei outros dialetos

que nunca pensei falar...

colhi flores que não murcham

e sobrevivem sem água

ou terra para deitar.,.

Senti o calor das lãs

que não habitaram campos,

e voltei de malas cheias

de castiçais e de santos...

 

Então eu voltei pra casa

pro meu corpo de menino...

solhei enquanto viajava,

na tua mala, mascate...

Sonhei ser um viajante

que parte trazendo o brilho

pros olhos de diamantes...

espelho da beleza,

pra quem não sabe ser belo...

A boneca pra menina,

que nunca embalou o sono

e dois olhinhos que piscam...

E o carrinho de rodas que desliza,

se der corda,

entre os pezinhos ariscos...

 

Quero ser igual a ti,

Chico Mascate da vila...

Quero trazer a alegria

onde habita o silêncio...

Quero voar nestes trilhos

que te levam e te trazem

feito uma cuia de mate...

E chegar de malas cheias,

do mar de muitas areias

que brindam espumas brancas.

 

Se eu deixar de ser criança,

eu quero ser um mascate!!!