MARCA E SINAL

Carlos Omar Vilela Gomes

 

0 tom do vento murmura teu nome

Quando recorta a madrugada fria;

Tem sonhos, sombras e assombros...

Tem gosto de nostalgia.

Soluça, retoçando nas coxilhas,

A luz de uma lembrança tão bonita

De quem, bem mais que fogo, foi poesia.

 

0 tom do vento, sem querer, te chama

Por entre os descampados, pelos cerros,

Por entre as águas fundas dos meus rios;

Desenha teu semblante no horizonte,

Na essência primitiva dessas fontes,

Fazendo a natureza entrar no cio.

 

Meu coração era alçado,

Multiplicava pecados,

Somava beijos e dor.

Nas grotas dos desenganos,

Eu seguia, veterano,

Orelhano e coiceador.

 

Meu coração renegado

Gemia desencontrado,

Achando que era feliz;

E bem firmado no estribo,

Zombava então dos motivos

De quem criava raiz.

 

Creio piamente nas encruzilhadas

E nos destinos que ali se criam;

Mas quando as almas logo se esvaziam

Tentam de tudo para encher o nada.

E a ilusão de projetar volteadas

Buscando vida onde nada tem,

Faz o gaudério, que se perde além,

Buscar no pó toda a razão da estrada.

 

Mas quando a alma sucumbiu, cansada,

Por entre as curvas mais desencontradas

Provou um gosto todo amor e sal.

No teu olhar me acalentei das geadas,

Nos teus sinuelos refuguei rodadas...

Me deste marca e depois sinal!

 

Por isso o adeus não me serve...

Não invade minha alma,

Não convence minha pele.

Por isso o adeus não se planta

Na terra tão fértil

Da minha garganta!

 

Por isso maldigo o momento

Em que o tom desse vento

Virou porta-voz...

Das chagas dos meus desalentos,

Do céu dos tormentos,

Dos restos de nós.

 

0 som de um violão desbotado

Harpeja mandados

Nalgum temporal;

E minha saudade chamando...

Meu peito sangrando

Num golpe fatal.

 

Mas sei que a morte é pequena

Se em noites serenas

Te achegas em mim...

Estendes tua mão com carinho

E tanges meu pinho

Em notas sem fim.

 

Não sei a distância da espera,

Mas sei das taperas

E sei do perdão;

Teus olhos se achegam, precisos,

E o som do teu riso

Ressoa a amplidão!

 

Te procuro muito além do tom do vento...

Te procuro no silêncio, te procuro na explosão;

Sou a brasa que ainda segue incandescida,

Renegando pela vida um futuro de carvão.

 

Eu te chamo pelo breu dos descaminhos...

Pelas voltas do destino, por meu resto de ideal;

Eu te encontro neste pranto que derramo

De um coração orelhano, que hoje tem marca e sinal!