E A RIMA FECHA A PORTEIRA
Matheus Costa
Depois que o tino das
mãos
destina rédeas às casas,
e o sol que veste o rincão
vai morrendo em mornas brasas,
sempre alguém range basteira.
É um poema que vem
voltando,
com a cachorrada escoltando...
...e a rima fecha a
porteira.
Quando se escuta a quietude
e, dentro
dela, um idioma
- meio terno e meio rude –
dos que o sem fim coleciona,
essa é a cantiga estradeira
que o poema entoa em brio.
Vez por outra, um
assovio...
...e a rima fecha a
porteira.
No final das recorridas
sempre se traz um "pesteado"
pra ter caseira guarida
num potreiro mais ao lado,
onde a morada é lindeira.
O poema faz benzedura
com fé na prece que cura...
...e a rima fecha a
porteira.
Com garoas estendidas
de se espichar curtas horas
o tempo repensa a vida
e a vida entende as demoras,
que se tornam companheiras.
Já o poema, mais atento,
preenche seu pensamento...
...e a rima fecha a
porteira.
Se
chegam tropas pesadas
de mágoas, penas e dores,
cansadas dessas jornadas
distintas, nos corredores,
a alma se faz mangueira.
O poema - calmo -
rondando,
uma a uma vai
contando...
...e a rima fecha a
porteira.
Os atalhos e cruzadas d
esses tantos infinitos,
mostram palavras guardadas
nos conselhos mais benditos,
que pra se ouvir, "hay"
maneira.
O poema, então, dá ouvidos
para aguçar os sentidos...
...e a rima fecha a
porteira.
Pra tirar no campo afora
a recente inspiração
- que, ao comparar, nesta
hora
tem ares de redomão
- a solidão é estriveira
que o poema vai se firmando
com jeito, desempachando...
...e a rima fecha a
porteira.
No tinir das madrugadas,
recortando a cerração
e registrando entre geada
cascos redondos no chão,
há fumaça em reboleira
do fumo em lábio cortado.
O poema de laço atado...
...e a rima fecha a
porteira.
Mas se tua rima for indo
com a
pipa do aguateiro
não está se despedindo:
é o instante passageiro
da consonância parceira
dar água à sua tarimba
nas poéticas cacimbas...
...dos caminhos sem porteiras!