CONSTELAÇÃO
Juliano Javoski
Eu te sou grato,
minha pequena constelação,
formada de ferro e couro,
suspensa sob o céu do galpão,
pela parceria costumeira
debaixo de sóis e chuvas,
sem parar a cantiga,
repartida em dois luzeiros,
um em cada garrão.
Se a noite
tem o regalo de Três Marias,
tu és dois sóis andarilhos acesos,
de noite e de dia.
E no imaginário,
por vezes
eu penso,
que o teu
tilintar, é saudade
das tuas irmãs lá de cima,
ao lavrares
o chão
ou voares junto aos estrivos...
E só não te vais
ao céu
porque te sujeitam,
as alçaprimas.
Eu te sou
grato
meu par de sonoros cataventos,
por repartires tua cantiga
com labutas e chamariscos,
girando ao meu comando,
juntando pelagens no vão das puas.
E entre as prendas
bonitas,
despertando olhares ariscos.
Há quem nos condene
por cicatrizes no pelo dos potros,
na doma tradicional, "mais ligeira",
mas, essa, fere só por momentos
e representa uma boa causa;
Piores, são puaços de desenganos
que nos lancinam a alma,
às vezes, pela vida inteira...!!
Te
atribuem
algumas justas alcunhas
pelo que és...
e o que pareces ser,
Choronas, Maritacas - lamento e alegria,
Tampa de lata - da roseta avantajada;
Chilenas - de domar ventos andinos;
Nazarenas - um quê de liturgia.
Eu lhes sou grato,
estrelas-guias, companheiras,
por nortearem
meus rumos,
impregnados de afãs,
tocando as virilhas do flete,
num crioulo
missal,
com rezas de quero-queros
e súplicas
de tajãs.
Agora,
dormes, no calor galponeiro
das horas
noturnas,
ao mermarem os vozerios;
E se a noite,
tem o regalo de Três Marias,
tu és dois sóis que descansam,
acesos, de noite, ... e de dia.