SILÊNCIO

Henrique Fernandes

 

A prudência do silêncio

guarda o valor da palavra...

...palavra- trança redonda

que dá mais fina lonca

desquino nas madrugadas...

 

...quando a quietude da noite

me traz visagens de um tempo

que emboneca o sentimento

no florir das alvoradas.

 

A voz das velhas carretas

também clamam por silêncio...

...eixos e rodas que cantaram

salmos tristes e dolentes

fazendo a alma da gente

se quedarem silenciada.

 

Então retoço a quietude

que porfia com a virtude

que se entaipa na palavra.

...a luz dos campos floridos

trazem a essência de vida

a cada troca de lua.

 

Na voz dos freios, das puas,

que também buscam silêncio,

tal se a basteira das horas

emudecessem as esporas

num atavismo charrua.

 

Pensativo cevo um mate,

e estendo outro ao silêncio...

Uma cigarra campeira

me ínvida para um verso,

mas meu silêncio insistente

faz "escarcialo" na mente

apenas em pensamento.

 

Minha guitarra recostada

também se para calada,

pois os sonhos que almejo

tão "lejos" de seus arpejos

escarceraram sua toada.

 

Apresilho o argumento

escorado a obra humana

em sensitivas paragens

destaperando as imagens

do tantas crenças profanas.

 

É na cruz do batistério

que me compreendo calado...

...e esfacelo o pecado

vicietudes mundanas.

Fecho os olhos e encontro

A esperança do verbo

E como sa luz na distância

inebriace o escuro...

 

...vejo um silêncio maduro

me apontando o norte e o trilho

pra que a palavra que encilho

tenha rumo certo e seguro.

Busco na chaira do silêncio

assentar o fio do que falo...

...como os tentos de um bocal

que aos golpes e tironaços

sujeita um potro aos golpaços

para torná-lo cavalo.

 

E outro mate me ínvida

quando o chio da cambona

porfia ânsias refletidas

no espelho da cuia lavada...

...porongo adentro desfolho

-no livro- refletido dos olhos

a profundeza da minha alma.

 

...vejo um silêncio maduro

me apontando o norte

e o trilho pra que a palavra que encilho

tenha rumo certo e seguro.

 

Quantas palavras de veneno

tornaram o homem pequeno

nas dores ternas da terra..

...brados em voz caluniosas,

em mentiras pretensiosas

para o rebroto das guerras.

 

Por isso...

...te peço perdão

meu silêncio companheiro.

Pelas vezes que não te ouvi

olvidando o que aprendi

das tuas rimas caladas.

Foi com a boca fechada

que nunca me arrependi

de manear minhas palavras.

Cristo, revelou seus mistérios

usando o simples critério

na sua humildade de pai.

...ensinou que o que envenena

não é o que entra na boca,

mas sim o que dela sai.

 

Agora compreendo solito,

na inocência do meu mundo,

que a cada novo segundo

a vida passa num sopro.

Sento as garras no silêncio...

com trastes fortes, sovados,

e encilho a palavra calado

como se encilha um potro.