RECUERDOS DE UMA CRUZ DE CAMPO

Anderson Fonseca

É de pau-ferro o monumento

campechano...

...talhado por mãos de rude artista;

Cuja sombra imponente, se alonga

Pelo pampa nos finais de tarde.

 

...do cume de seu altar campestre

é guardiã servil,

Abençoando campeiros nas reculutas,

Cuidando o despejo das vaquilhonas

de primeira cria,

Orientando vôos e dando pouso

Para fiéis amigos que planam silentes para

seus braços.

 

Ninguém recorda seu nascimento...

...o certo é que foi criada a muito tempo...!

...talvez para emoldurar uma vida plantada

a seu pé...

...talvez para ser uma sentinela do campo.

 

Com braços de doação, foi confessionário

De muitos que dobraram os joelhos a seu pé

Em preces e orações a almas que de a muito

Habitam outro plano de existência

(Como um portal entre dois mundos).

 

O campo é vida para os que chegam

E eternidade para os que deixam

Suas carcaças se fundirem à terra bruta

Para novamente renascer neste plano

Noutra forma de existência...

Seja no viço da forquilha,

Seja no límpido azul dos açudes...

... ou no silêncio das picadas!

 

Solitária como as almas que vagam,

Retrucando invernos por silêncios e dores,

Simboliza a vida, de quem partiu, e se foi...

...para ser lembrança pelo rebrotar da flor

O campo que empresta sonhos a tantos,

Que alimenta olhares tão ternos...

...e se faz vida para flores e macegas,

...e se faz mundo para grilos e cigarras,

...e se faz templo para vidas e morte.

 

Benditas sejam as almas do campo,

Que são mangrulhos entre os braços abertos,

Fazem suas preces pelas tardes quietas,

com a mesma fé de corpos viventes.

Nos seus credos... nas suas súplicas...

Na certeza incerta do que virá depois.

 

Quantos invernos já pechou de frente!

Quantos outonos a contrapor os ventos!

Quantas primaveras sem florir as flores!

Quantos verões a lhe castigar o tempo!

Como um tronco encravado a beijar o capim,

Espreita a saudade de algum ser andarilho,

Com medo dos tantos que pousaram em ti.

 

“É de pau-ferro o monumento campechano...

...talhado por mãos de rude artista”;

Que enfeita a coxilha de sol e mormaço,

E renova a lembrança de quem já se foi!

 

Sem data... nem tempo...

Sem nome... nem vida...

Tua forma é a certeza,

De apontar um norte,

São braços abertos...

De um Cristo liberto...

Mas guardas por certo,

As lembranças da morte!