AS NOSSAS ENCRUZILHADAS
Sérgio Sodré Pereira
Eu desconheço os motivos
pelos quais mereci o regalo
de, um dia, o teu cavalo
encostar no meu de lida;
na Estrada da vida
surgiu esta encruzilhada
em uma noite abençoada
quando buscastes guarida.
Ficaram claros os caminhos
quando estendestes o brilho
do teu olhar de filho
que cuida os atos fraternos
- ali, enrijeci o cerno,
topei geadas, mormaços
e entreguei os meus braços
a este amor eterno.
Logo outra encruzilhada
apartou os cascos dos pingos
- eram tristes os domingos
pelo peso da distância -
...a saudade era uma estância
com quadras quase sem fim
e eu só queria, enfim,
andejar a tua infância.
...e vieram tantas luas
de cevaduras lavadas;
vieram pedras na Estrada
e passos crescidos por enchentes
que vazam do olhar da gente
nas ausências sentidas
quando as léguas da vida
faz um de nós ser ausente.
E foram visitas curtas
(pouco tempo pra viver)
e a lida a me prender
longe do que realmente importa
- nesta hora só conforta
a cuscada avisando
que um bem querer vem chegando
com um Oh de casa na porta.
Mas...depois de tantas léguas
outra cruzada te trouxe
e a dor que havia acabou-se
com oito cascos tranqueando
e a vida, no más, passando
- pai e filho, lado a lado -
com encruzilhadas no passado
e outras tantas se achegando.
Talvez nos espere aquela
que mostrará o teu rumo,
de buscar o teu consumo
- tuas razões pra andejar.
É cedo para pensar
mas talvez em algum domingo
eu veja a anca do teu pingo
sumindo do meu olhar.
Nesta, erguerei um rancho
esteiado de
lembranças
do teu sorriso criança,
dos teus pingos de taquara.
Minhas relíquias mais raras
- tesouros de uma vida –
as emoções mais sentidas
neste tempo que não pára.
Filho meu, virá o dia
- e tomara que se demore –
que em uma encruzilhada tu chores
por ter chegado ao fim
a nossa história e, assim,
com Deus seguirás sozinho,
mas saibas que pelos caminhos
serás o melhor de mim.