Rapazito de Estância.

Inez Domingos  Stadler

 

Nasci numa estância neste meu  Rio Grande, 

sempre fui da  lida e   daqui nunca sai.

O mais longe que fui, foi ali   na estrada grande,

 no bolicho do velho Joaquim.

 

Nesta Estância eu e meus irmãos,

Nascemos,  e na simplicidade  fomos  criados,

Cada um com sua lida, mas a minha, era

cuidar de  ovelhas, das galinhas e dos cavalos.

 

Tudo tinha que  estar  certinho,

Eu tratava dos cavalos  na madrugadinha,

Debulhava milho pras galinhas, cuidava dos carneiros

 e contava quantos tinha.

 

Mas se falta-se algum, com tremedeira nas pernas

um por um  eu recontava.

Meu pai não perdoava sumiço  e era no meu lombo

 que o mango dele  cantava.

 

 

O meu pai , me fez uma promessa, e eu guardava ela  comigo, 

 com  muita  ansiedade.

Que quando eu ficasse mocito de bigode

 apontando me levaria, pra  conhecer a   cidade.

 

Eu sonhava com este dia, esperando ansioso,

Mas meu pai não reparava que a minha barba já crescia.

Meio pouca era verdade, mas se olhasse de ladinho,

Já se via os fiapinho,  como uma penugem  bem macia.

 

A safra já estava  colhida e pra cidade,

o meu pai já havia marcado  o dia da partida.

Será que ele já viu o meu bigode? eu já sou um homezito,

cuido de tudo solito e quero estar nesta saída.

 

O carro de boi já estava carregado, o velho já pegava ,

um pedaço de fumo  o pala e ums restos de cobre.

Ele  já estava  partindo,  Bem que  meu mano disse:

pra passa bosta de galinha preta na cara, que cresce logo o bigode.

 

O carro de boi saiu,  eu já estava de cabeça baixa, com uma lágrima já rolando,

 e  meu pai  olhou  para traz e viu  minha tristeza.

E ele disse gritando. O que ta fazendo parado ai piá,

Pegue  umas roupas , e suba neste carro,

tu bem  sabés que não gosto de moleza.

 

Eu me sentei do lado do velho abraçado com meu borná,

meu coração batia disparado sentido um grande orgulho.

Minha mãe e meus irmãos estavam felizes por mim,

porque sabiam que enfim eu ia conhecer um novo mundo.

 

Viajamos por dois dias, parando de vez em quando

 e fiquei mui admirado quando chegamos na tal cidade.

Mas Bah que tanta casa juntinha!  

e aqueles guris brincando na rua, será que 

não tem trabalho, Mas que Barbaridade!!!

 

 A Igreja era grande e ficava bem no alto,

Passava muitas mulheres e homens bem  vestidos e arrumados.

Pois ai,  eu me senti sem jeito, eles eram  diferente, 

usavam ternos, e vestidos floridos e eram  muito perfumados.

 

Devagarito chegamos no armazém,

e meu pai foi descarregando os sacos  que a gente trazia.

E antes que ele me manda-se, me ocupei logo do oficio,

 fui  logo descarregando a nossa mercadoria.

 

Foi quando eu ouvi  as vozes e rizadas   de pías,

a me chamar  de Zé carçudo, guaipeca sem dono e  Zé lingüiça.

Eles eram  um monte de piá tudo engomado,

com umas roupas esquisitas parecia que viam da missa.

 

Continuei meu trabalho, ajudando o meu pai,

Mas quando fui me abaixar, senti uma pedrada nas costas.

Esses infelizes saíram rindo de mim, e pensei!

Mas Bah   o que tem de mal  minha  bombacha e minhas botas?

 

Acabando o serviço fomos  até o bolicho, comer alguma coisa ,

 o pai  pediu  uma canha,e me comprou umas balas de canela.

Foi quando vi atrás do balcão, a mais bela flor de menina,

como pode existir alguém  assim tão bela.

 

Eu acho que ela deu uma olhada pra mim,

mas talves não,  ela não ia olhar pra mim,

eu era diferente desses meninos da cidade.

Pensei, Vou me amontuar num canto,

esconder as minhas roupas, vou ficar bem quietinho,

 e olhar ela,  bem distante.

 

Mas passando um tempo, enquanto meu pai conversava

 com o seu pai o  bolicheiro,  ela Foi se aproximando.

O que será que vai fazer? Vai me chamar de Zé carçudo também?

 Mas com um jeitinho dengoso ela logo foi falando.

 

 Quando eu me casar quero casar com um peão como tu,

forte e trabalhador,  um peão de verdade.

Que usa bombacha larga, botas  e chapéu ,

 seja da lida, não como esses porqueiras da cidade.

 

Tudo que ela me disse:  Me deixou muito  animado,

 pois aqui sou novidade por mostrar simplicidade.

Depois disso me levantei,   pisando firme no chão, 

igual galo em   terreiro alheio  e cheio de vaidade..

 

Aqui faço uma promessa,  quero viver no campo

 dentro da minha simplicidade, ser honesto e  mui faceiro.

E pra cidade só volto pra pedir  em casamento

a mais bela flor morena  a  filha  do bolicheiro.