O “Libisome” do Rincão*

Cléber Luz

 


Foi numa noite de sexta-feira
Que este fato sucedeu!

A lua prateava o campo

Bem logo que anoiteceu.

 

O vento no taquaral

Imitava uma cantiga de ronda...

E um grilito cricrilava

Num guitarrear de milonga.

 

Mal cruzava a meia noite

Se alvoroçou a cuscada.

Peguei o “foco” e alumiei

Do terreiro até a ramada.

 

Atrás d’uma cerca de ripa

Um bicho estranho se escondia,

Batendo as “oreia” grande

Cada vez que se sacudia.

 

A patroa botou os “óio

No tal bicho interessante...

Perguntei: -“Mas que tal o bicho?

Me respondeu no mesmo instante:

 

-É uma “oveia” da Guilhermina

Que se escapou do potreiro!

Ou a “macoa” do Juvêncio

Que se bandeou do chiqueiro!

 

-Nada disso! Respondi

Num jeitão bem entonado.

-É “libisome”, te garanto,

Pois nisso sou estudado.

 

Saquei o trinta do coldre

E fiz bem a pontaria...

Três palmo acima da cerca,

Pois matá-lo eu não queria.

 

O Schmidtão berrou grosso

Que deu eco no rincão.

Como um courisco se sumiu

O bichinho na imensidão.

 

Deixou rastro na lavoura

Mas, casco e pata não era!

uns risco meio torto

Quando buscava a tapera.

 

Desde então eu arreparo

As atitude dos “amigo”!

Só o Juvêncio corta rastro

Quando se topa comigo.

 

Não chega mais lá em casa,

Nem tampouco cumprimenta,

Anda sempre a passo largo

Quando na vila se apresenta.

 

Quando me encherga no bolicho

Parece ver assombração.

Mas oigale! To achando que descobri

Quem é o “libisome do Rincão”!

 

 

 

*Baseado em relatos do Sr. Antônio Sebastião, Esmeralda/RS