MULHER DE FIBRA E CORAGEM

                                                 José Augusto Fiorin

 

 

Tempos passados, se foram,                                       

E uma história ficou...                                                   

E, contando aqui estou

A história dessa  família.                                                                                                     

Uma mãe, um filho, e um pai,                                        

De gesto extraordinário,

Bravo revolucionário,

Da guerra dos farroupilhas.

 

Eu não diria tragédia,

Coisa pior é esse fato;

O pai, um taura sensato,

De muita imaginação,

Deixara sua mulher,

Mas não por sua vontade,

Pra pelear por liberdade,

Na grande revolução.

 

Seria castigo de Deus...

Mas depois que ele partiu,

Algo estranho ela sentiu,

Depois de dias e dias.

Parada, ficava a pensar,

Estava bem diferente,

E nem notava que o ventre

Pouco a pouco lhe crescia...

 

Estava esperando um filho...

Filho! Filho do vento.

Porque seu pai, no momento,

Tinha saído a pelear!

Não entendia nada de guerra.

De guerra... tinha pavor!

Só entendia de amor,

Porque só sabia amar.

 

Durante um longo tempo

Ficou em casa trancada.

E nas longas madrugadas,

Esperava seu marido.

Ficava olhando pra porta,

Muitas vezes, comovida,

Acariciando a barriga

E seu filhinho querido!

 

Vem o filho ou vem o pai?

E se o pai não mais vier?

Aquela meiga mulher,

De tristeza morreria...

O pai já fora pra guerra,

Com perigo de morrer.

O seu filho ia nascer

E ele ainda nem sabia!

 

Mas, também, se ele voltasse,

Salvo, forte e  bem vivo,

Teria um forte motivo,

Pra uma grande festança!

E se ele não voltar?

Nisso nem quero pensar...

Como iria se criar,

Aquela pobre criança?

 

Passou o tempo... Um dia,

Um guri ia nascer...

E sua mãe a sofrer,

De dor que ninguém suporta.

Lembrava do deu marido,

Que para a guerra partiu;

Foi nesse instante que viu

Alguém empurrando a porta.

 

Seu marido ali chegara,

Trombalhando e quase morto,

Baleado, até meio torto,

Mas com fibra de caudilho.

Talvez fosse o destino,

Que Deus escreve e não erra:

Fugira daquela guerra

Pra morrer perto do filho!

 

E morreu, sem falar nada,

Apenas pro filho olhando...

O pequenino chorando

E a mãe chorando, também!

O filho havia nascido,

Em meio aquele pavor!

Ela perdera seu amor,

O homem que era seu bem.

,

Mulher de fibra e coragem,

O exemplo do sofrimento...

Desde o mais triste momento,

Esteve de cabeça erguida.

Por isso, tu nos orgulhas,

Com tua tristeza na face...

Morre o pai... o filho nasce...

Mas continua a vida!