ROMANCE DO ARREPENDIDO

Lucas Augusto Rohde

 

 

Sabe meu patrício...

Foi nesse momento

Que minha saudade tornou-se luto...

 

Um dia,

eu teria uns dezenove ou vinte anos

olhei para o horizonte

e esqueci de tudo que passei até ali...

Peguei meu pingo...

Minha mala-de-garupa...

Sumi naquele quebrar de aurora

deixando tudo vivi...

 

Campereei, mascando fumo,

os potros surrados das desvirtudes.

Causei desilusões que

o tempo me fez ver... 

 

Ah, como o cavalo é tosco 

quando ainda é potro...

 

Com minhas próprias coplas

E meus próprios andejos

Cantei amores, semeei dores...

Aparei guitarras para “amigos”...

 

Fiz das estradas morada...

Fiz do pampa minha casa...

Usei um pouco de mim

para aprender a lida.

Digo até que valeu a pena

por ter aprendido muito para a vida...

 

Lonqueei meu verso verdade

Cantando paixões e amizades,

A cada paixão que se passava,

um antigo amor aumentava,

a cada amizade que eu deixava,

um pedaço de mim ficava...

 

Noite dessas,

No desalento do meu catre,

Que toda noite estava cheio...

Cheio de luxúrias...

Cheio de desejos...

Afagos que me dei conta que,

na verdade, não queria

lembrei de momentos

eternizados no passado...

 

 

Do posto, mates amargos,

Das domingueiras, carne de ovelha,

Da capela... Rosinha...

 

Ah, Rosinha...!!

De cabelos castanhos,

olhar esverdeado,

jeito macio,

mas porte guerreiro...

Amor que nunca esqueci...

 

Então andei mateandosolíto

pensando no hoje,

lembrando do ontem,

em um campo de desatinos!

 

Entre orgulhos e luxúrias

o pensamento fez “requerdos

daquele pago que foi meu...

 

Foi então que voltei...!!

Voltei pra o meu pago,

voltei pra meu passado,

voltei pra meu amor...

 

- Se os amigos são de verdade,

não há tempo que apague!

Aos velhos não quero somente saudade,

quero também compartilhar um mate.”

 

“-Quanto a alma, se é gêmea,

não existe desverdade.

Amor que é amor

vive mais que a eternidade.”

 

Na cidade, a tardinha

cheguei pr’ aqueles lugares

que o tempo deixou guardado

nos campos do pensamento.

Mudados, já não eram os mesmos

Mudados, já não haviam os mesmos...

 

Por um repente,

algo começara a mudar em mim.

Um sentimento de perda,

que um dia foi “solamente” saudade,

agora, talvez fosse luto.

Um passado somente, quem sabe?

 

Andando a procura

de alguém a minha espera

vi o posto abandonado,

sem mate e sem amizade...

 

E no andar vi a capela...

 

Patrício,

em meio aos meus pensamentos,

quase me falta forças

pra conter a vontade

de segurar as íras

que sinto nesta passagem!

 

Na capela,

co’aquela labuta de gente

vi a festa que faziam

pra casamento de um vivente.

Fui pra perto, para ver a felicidade

e o amor da pessoas daquela cidade...!!!

 

Foi... Foi nesse momento

Que minha saudade tornou-se um luto gelado...

 

Ao olhar as escadarias da capela,

ao olhar o casal descendo feliz

depois de muita espera,

meu peito morreu de desgosto

por ver o quanto eu estive ausente!

 

Nunca me esquecerei, patrício,

daquele momento em si mesmado...

Estará sempre impregnado

no meu peito e na minha mente!

Tua mão segurando a daquela

que foi minha mulher...

E o olhar dela, patrício,

encontrando o meu

eternizado por meus erros!