Lampejo

Francisney 1999

Na fazenda coxilha rica

No município de Pau Fincado

Eu nasci e fui criado

Sem nunca ter visto luxo

Trabalhando desde piazito

No cabo da foice e do arado

Muito cedo fui desmamado

Cumprindo a sina de gaúcho

 

E ali cresci escutando

Assuntarem dum touro afamado

Que muitos já tinham matado

Por ali no vilarejo

Touro velho é verdade

Vinte anos tinha completado

Mas nunca fora montado

Seu nome era Lampejo

 

Até que num mês de agosto

Vejam só o acontecido

Lampejo então foi vendido

Por mil e quinhentos cruzados

O dono veio busca-lo

Como foi prometido

Vou lhes contar o ocorrido

Fiquem escutando sentados

 

Vieram mais de vinte peões

Pra laçar o bicho danado

Lampejo não era domado

Por qualquer peão de estância

Um por um foi tentando

Deixar no chão o touro maneado

Nem sequer foi laçado

Corria a uma certa distância

 

Então com muito sacrifício

Lampejo foi repontado

Quando viu já tinha entrado

Para dentro da mangueira

Ali a gauchada o cercou

Deixando-o encurralado

Lampejo contrariado

Soltava fumaça pela orelha

 

Não houve jeito de pegá-lo

Na unha ninguém tentava

Algum ou outro que laçava

Se fosse bom de braço

E o touro no canto encolhido

Fazia de tudo e não se entregava

Corda ele arrebentava

De couro ou até de aço

 

Se Lampejo pudesse falar

Na hora diria contente

Venci toda essa gente

Escapei com o pêlo liso

Mas suas palavras seriam falsas

Não sabia que pela frente

O homem covardemente

Sumiria com seu sorriso

 

Não havendo como levá-lo

O dono então pensou

Esse negócio já se consumou

Este touro eu vou matar

E puxou da guaiaca um 38

Duas balas disparou

Lampejo no chão ficou

Para a lenda acabar