HONRA DE GAÚCHO

                                                    Francisney 1999                                         

 

Sem mais e sem menos demora

Permita que me apresento

Sou gaúcho do passo lento

Que vive vida de grosso

Mais atolado que caroço

Mas disso não me lamento

 

Ando com minha guaiaca vazia

Minha bombacha toda rasgada

Tenho um rancho na beira da estrada

Que não tem mais porta e tramela

O meu cavalo não tem sela

E minha espora já está quadrada

 

Meu chapéu anda sem aba

E meu lenço desbotado

Quando novo era colorado

E agora está branqueando

Mesmo assim eu sigo usando

Porque não é por moda que é usado

 

Na minha roça não nasce nem inço

Minha invernada não tem porteira

Meu rancho se enche de goteira

Quando com a noite cai o sereno

E nem o ovo mais pequeno

Cabe dentro da minha frigideira

 

Minha adaga perdeu o fio

Faz tempo que não corta nada

Minha bota está apertada

E o cano não mais existe

Pro meu canário não há alpiste

E pra carpir não tenho enxada

 

Para mim o sol já nasce no oeste

E me deixa à distância

Mas tudo isso não tem importância

Quando vou ao fandango dançar

E uns versos posso declamar

Sobre minha amada estância

 

Quando bebo um belo trago de canha

Esqueço da minha vida

De tantas horas sofridas

E de tanta amargura

Com aquela amarga tontura

A tristeza fica divertida

 

Pois eu só necessito de

Churrasco para comer

Uma canha pra beber

Um chimarrão para tomar

Prendas para amar

Com isso dá pra viver

 

Porque pode me faltar quase tudo

Não ligo para luxo

Sou gaudério que agüenta o repuxo

Vivo de muita coisa emprestada

Não faço questão de nada

Só da minha honra de gaúcho