Décima Redonda de quem Doma Potros e Bois

Roque José Oliveira

 

domadores, meus patrícios

há miles, por essa pampa

se diferentes na estampa

tão iguais em seus ofícios

mesmas prosas, mesmos vícios

e o mesmo tino campeiro

homens, rurais e vileiros

vem ermanados na farra

de repassarem nas garras

tropilhas de caborteiros

 

a cada grito de solta

deixa pra mim, o malino

o taura envida o destino

que não precisa de escolta

se, se agarra dando volta

ou se arrasta num repecho

pra livrar dum mau desfecho

que se apronta nessa hora

vai um santo em cada espora

e um tento atado nos queixos

 

são tantos os domadores

paridos nessa querência

calejados de experiência

e perícias de doutores

também são tantos cantores

que se agrandam nesse tema

cada um à seu sistema

de por um home acavalo

ou simplesmente cantá-los

pra falquejar um poema

 

me gusta, ver um cantor

de guitarra e alma em punho

forjando um canto terrunho

solito, sem fiador

domando coplas de amores

e uma saudade gineta

sem esporas, nem rosetas

só tendo a luz das estrelas

guiando a pátria sinuela

sobre as rodas das carretas

 

é por isso que canto

um domador diferente

da mesma forma, valente

ma esquecido, no entanto

não por Ter menos encanto

mas, por andar mais distante

quem mirar num sofragante

ainda verás esse campeiro

as voltas com algum franqueiro

na cortina do horizonte

 

 

 

 

 

há de se Ter mais tutano

se topar com algum refugo

fazer respeitar o jugo

por mais que seja aragano

boi de canga, meus ermanos

tem de tudo que é feitio

o mais manso, o mais bravio

conforme, se redomoneia

vai se apartando as parelhas

cada qual pra sei prestio

 

boi lerdo, dá puxador

pra arrasto ou carga pesada

num atoleiro ou trepada

nem precisa fiador

boi ligeiro, da lavrador

tendo a verga por regeira

nunca passa da porteira

do piquetinho dos fundos

pois tem no arado seu mundo

e na canga sua fronteira

 

quem vai no coice ou na ponta

isso aì, até nem falo

porque outros já falaram

então eu deixo por conta

pois pegar a coisa pronta

eu nunca fiz e nem faço

vou ocupando os espaços

por onde me vem o envite

sem ir além dos limites

da força dos próprios braço

 

quem volteou parelhas loucas

e outros tantos cavalos

sabe bem que prá domá-los

a diferença é mui pouca

um, leva um tento na boca

o outro, leva regeira

um, chergão, cincha, peiteira

e pelegos sobre o basto paisandú

o outro, ajojo, e canga de guatambú

tamoeiro, brochas e canzis de pitangueira

 

não vou fechar a porteira

no arredondar dessa prosa

pois há boiada teimosa

e eguada caborteira

pra nossa indiada campeira

ir retoçando a pealo

quem sabe até sujeitá-los

com bocal ou com ajojo

buscando um último apojo

de carreta ou de acavalo