Casereando

Jéferson Rogério Valente de Barros

                       

O despontar da estrela d’Alva

Desfaz o tom de acalanto

Do guitarrear milongueiro

Da madrugada gelada.

Não se ouvem mais os grilos

E o coaxar incessante da saparia do açude,

Tenores entoando árias,

Encerrou o seu concerto.

 

Vez em quando um galito,

Campeiro clarim do pampa,

Executa o despertar

Lembrando o findar da noite

Àqueles nela imersos.

 

O braseiro

Desfeito em cinzas

Já não aquece.

 

Solito, o peão mateia

Com o olhar perdido

Na amplidão do pensamento...

O alento do sono

Não quis fazer-se parceiro

Daquele que casereia.

Somente reminiscências

Paleteiam a alma rude,

De agruras falquejada.

 

Julho aumenta a ferida

Pela flor embrutecida

Do inverno que se agranda.

E uma lágrima salgada

Se derrama pesada

Por sobre o peito oprimido

Pela saudade da prenda,

Zelosa, a cuidar da prole,

Na ausência do parceiro

Que foi changuear o sustento.

 

O alvoroto dos cavalos no potreiro

Traz à mente o rebuliço dos piás,

Seus pupilos nas lides de campo,

Faceiros, correndo a abraçar o pai

A cada fim de tarde.

 

O calor da bomba

Revive na memória

Os lábios doces da amada.

Que não aquece o catre

Nessas frias noites de invernia.

 


É para prover o sustento

Daqueles que lhe são caros,

Que hoje cruza a noite

A zelar um rancho

Que não o seu.

 

Curtos dias pra o trabalho.

Longas sombras

Entre ocasos e alvoradas.

 


Ronca o mate,

Cantam os galos,

Relincham os potros.

É hora de despertar

Da noite dos pensamentos

Pois há muito a labutar

No dia que abre os olhos.