Meu Canto Pajadoril

Cândido Brasil

 

Surge dos quatro elementos

neste garrão do Brasil,

dos altos do céu de anil

numa tormenta de vento,

do fogo de chão dormento,

da água profunda e sutil,

da terra ventre gentil,

gaúcho cento por cento,

em qualquer chão e momento,

meu canto pajadoril.

 

É guasca e de fundamento

vem do campo e vem a mil,

se faz cândido e hostil,

xucro, liberto e sedento,

de justiça e alimento

ao povo fraco e febril.

É luta agrária e civil

por direito e complemento

e igualdade em tratamento,

meu canto pajadoril.

 

É salvação e tormento

como tiro de fuzil,

é a fúria do projetil,

é o carteado pacholento.

É rodeio, laço, talento,

canha de guampa e cantil;

tuia, gamela e barril,

os ancestrais rudimentos.

É batismo e juramento,

meu canto pajadoril.

 

É o laço de qualquer tento,

carreta, canga e canzil;

índio aperado em perfil,

ronda de tropa ao relento,

cusco em vigília atento,

a bagualada viril.

É o manejo pastoril,

soga, cangalha, rebento.

É serviço em cumprimento,

meu canto pajadoril.

 

É promessa em pagamento,

chuva guasqueada de abril,

marca de casco em carril,

benzedura e livramento.

É cobreiro brabo e lento,

é bicho do mato ardil,

é o oitão, o peitoril

do galpão - velho segmento,

é a forma do pensamento,

meu canto pajadoril.

 

É a mesa do parlamento,

transformado em covil,

com a política imbecil

que só traz contentamento

a quem usa argumento

de modo perverso e vil,

nesta Pátria varonil

com ações sem cabimento,

é coerência e julgamento,

Meu canto pajadoril.

 

É um hino guapo e bento

pela inocência infantil,

pela experiência senil

do tempo em andamento.

Para o mundo em sofrimento

é a paz e o amor fabril

do Rio Grande senhoril

que trás alívio e acalento,

ao corpo e alma sustento,

Meu canto pajadoril.