A SEMENTE DE UMA RAÇA

Agenor de Mello Coelho

Eu sou prenda campesina,

desta terra das figueiras,

sou a flor da corticeira,

que enfeita o litoral,

trago o ouro nos cabelos,

o pomerano nos peçuelos,

a laguna azul no olhar.

 

Sou descendente de um povo,

órfão de pátria e querer,

que para sobreviver,

no lombo hostil do oceano,

enfrentou o furor das águas,

as incertezas e mágoas,

pra se fazer lourenciano.

 

Há cento e cinqüenta anos,

em dezoito de janeiro,

oitenta e oito guerreiros,

empurrados pelo vento,

aportaram nesta terra,

com sonhos de primavera,

no porto de São Lourenço.

 

Os pescadores de arenques,

da Pomerânia de antanho,

ancoraram em cais estranho,

com uma única certeza,

construir um novo chão,

na Coxilha do Barão,

junto à mãe natureza.

 

Em São João da Reserva,

com foice, machado e enxada,

iniciaram a caminhada,

no sonho de um mundo novo,

reescrevendo sua história,

com derrotas e vitórias,

na formação deste povo.

 

Sou uma alemã-pomerana,

de valores tradicionais

e nas festas e corais,

eu canto minha tradição,

meu passado, meus costumes,

sou o lume dos vagalumes,

em noites de escuridão.

 

Sou a semente de uma raça,

que desbravou este chão,

sem arma ou lança na mão,

deixando os seus para trás,

sua terra, suas origens,

se embrenhando em mata virgem,

em honra a seus ancestrais.

 

Nas lides me entrevero,

com os membros da família,

seguindo a mesma trilha,

para não perder a raiz,

em meio à serra e planura,

semeando pão e cultura,

somos um povo feliz.

 

Quem visita São Lourenço,

e conhece este povo obreiro,

humilde e hospitaleiro,

no Caminho Pomerano,

leva consigo a imagem

do denodo e coragem,

deste herói lourenciano.

 

Neste sesquicentenário,

São Lourenço envaidecido,

agradece enternecido,

a esta etnia de escol,

que tanto orgulha esta terra,

nas praias, campos e serra,

brilhando de sol-a-sol.