AOS QUE PLANTAM VERSOS

José Carlos Batista de Deus

 


Sei,

que a cidade que hoje habito

há pouco tempo foi campo...

Sei,

que tudo muda, isso é um fato,

basta bombear os retratos

dos pais dos pais de meus pais...

Também sei,

que a estância onde me criei

há muito virou tapera...

Por isso, eu bem sei,

que embora o mundo dê voltas

o tempo não volta mais!

 

Assim,

venho aos senhores do verso

pedir com toda a humildade

que tomem muito cuidado

ao campearem o passado

inspiração para os poemas.

Por favor, refugem temas

que cantem dor ou saudade,

pois, considero maldade

fazer um peão despeonado

andar remoendo a verdade!

 

Então,

para homenagear quem foi campo,

falem dos tombos e pealos,

das madrugadas e galos,

de touros ganhando o mato,

japecanga, unhas de gato,

coisas simples de lembrar...

Poncho, garras de domar,

tesoura afiada pra esquila

ou da eguada que se perfila

quando se manda formar!

 

Lhes digo,

um verso feito com gosto

quando contar esses fatos

deve ajoujar nos relatos

o lado bom que eles tem...

Os senhores sabem bem

o quanto a emoção maltrata...

Pois quem arrasta alpargata

perdido entre a multidão

traz preso no coração

um laço que lhe desata!

 

Por isso,

não é hora de dar porta...

Quem vem da boca do brete

não está pronto e nem promete

outra bandeira colorada

pra encher mais uma rodada...

Por certo, busca a alegria

e prefere a pista vazia

a ter de enganchar na corda

mil coisas de que recorda

mas que não servem pra nada!

 

Talvez,

seria um castigo Bueno

se estas rimas doloridas

que falam das duras lidas

estancassem na garganta

e sufocando quem canta,

trariam bem mais consolo.

E o verso, um pingo crioulo,

mostrando a força da raça

iria crescer nas praças

como se fosse uma planta!