Ai-ai-ai

Tadeu Martins

 

Do meu repertório

Não passa de um

Assobiozinho vaneirado

 

A motivação por esse balanço

Devo ao meu dedo

polegar dormindo da mão direita

Que tive no balancim da porteira.

 

Fui topado por esta dor

sem ensaios.

 

Ao empurrar a perna no

dito cambão

O fiel de arame torcido

mastigou meu dedo

E para não destabocar

fieiras de maldizeres

Saí contorcendo esta

vaneirinha dolorida:

 

Hai-hai-hai-hai!

Ai-ai-ai…

Hai-hai-hai... Hai-hai-hai…” (*)

 

A intimidade desse

assobio foi ao osso.

 

Música de baile com briga.

 

Vi uma marca do Tio Bilia

Comendo o dó da minha mão.

 

Tio Bilia era um tocador de botão.

Encantava aniversários

E o rouxinol da sua gaita

tinha muito saber.

 

E a minha dor toca

Chimanguinha” dele.

 

 

Os nossos bailes estão ouvindo

até hoje as mãos do Tio Bilia

Mas cravadas no meu dedo

têm umas formigas.

 

(Como dizia o pesquisador

Chico Aripuca:

“O melhor amigo da

música é o dedo.

Tirando de pauta fica sonorista

Tirando de dedo sai um solão).

 

Se uma ópera

Entrasse assobio adentro

Virava fuga de condolência.

 

No ano 1000 o maestro Guido

inventou DO RE MI FA SOL LA

Porque o SI chegou atrasado!

Para depois doer

em si o acontecido.

(O SI tocou para mim hoje

Do meu dedo no balancim

da porteira).

 

Curioso é que a música limpa

Qualquer dor fulgurante.

 

Por isso um ato de fé a música

Alimenta-se pelo amor de Deus.

 

Portanto

Meu assobiozinho sincopou

uma harmonia enferma.

 

Foi mesmo um solo de rumino

Com trechos de xingada musical

Para que o fiasco de amansasse.

 

O estranho é que ressoa no pé

(fiquei rengo).

 

Deslindei o dia

Que até feito o mate foi excesso.

 

Daí que carrego sobre a mão

Esta dor entrouxada de

arnica com cachaça

convalescendo meu ai-ai-ai.

 

******************

 

(*) NOTA DO AUTOR:

O trecho grifado representa o assobio da veneira