BIVAQUE

Xavier Valter Fritsch

 

Traziam um brilho nos olhos

E vieram na primavera,

Tempo de sóis maduros dourando aguadas,

Das lonjuras esverdeadas

Com tons de branco,

Da fumaça das queimadas,

Dos bandos de garças.

 

Vieram na primavera

Quando florescem as barrancas,

As beiras das sangas, dos açudes,

Os corredores, os capões de mato.

Quando rebrotam os pastos,

Os salsos, os cinamomos.

 

Vieram na primavera,

Quando o vento e a brisa mansa

Sussurram segredos

E velhas histórias

E restos de poemas,

Perdidos no tempo,

Que a mão de um poeta

Esqueceu de escrever.

 

Foi nesse tempo,

Que no Campo Bom,

Nesse campo sempre bom,

Armou-se um bivaque

De homens campeiros,

Com versos na lama

E um brilho nos olhos.

 

São homens que ainda

Mateiam nas rodas,

Mirando braseiros,

Soltando no verso

A memória dos anos,

As coisas do campo,

Da terra, dos bichos,

Cantando cambichos

De chinas terrunhas

De flor no cabelo.

 

Que raça de gente

E essa dos poetas,

Não são nem profetas,

Nem donos na história?

Alguns são crioulos

De marca e sinal,

Outros povoeiros

Voltados pro campo,

De bota e bombacha

E um brilho nos olhos.

 

Então se reuniram

Num grande bivaque,

Mistura de aromas

Por entre a fumaça

Do fogo de chão.

Poemas brotando

Das largas mateadas,

O amargo do mate

 

E o doce reencontro

De antigos parceiros

De versos campeiros

E um brilho nos olhos;

E a noite mais longa,

Pra ouvir os poetas,

Vestiu-se de negro

Com brilho de estrelas.

 

A barra do dia

Batendo tições,

Luziu nos fogões

Pra os últimos mates.

E as luzes da aurora

Douraram esporas,

A argola dos laços,

Estribos de aço

E o brilhos dos olhos.

De mala nos tentos,

Se foram rumbeando

No rumo das casas.

 

Os palas são asas,

Ao sopro do vento,

Um vento de outubro

Que agita as melenas,

Trazendo em sussurros

O eco dos poemas

De um grande Bivaque,

De homens campeiros

Com versos na lama

E um brilho nos olhos.