MATE GUARANI

Valdorion Klein

 

Não tive campo,     
Nem pingo de lei,
Assim Me Criei,
Gauderiando pelas missões.
Ouvindo poesias e canções,
Nos ranchos de chão batido,
Que ficaram meio esquecidos,
Junto com outras desilusões.

 

Pego a cuia de porongo,
Preparo a capricho um mate,
Com água boa e bem quente.
Pra aquecer minha memória.
Voltar páginas de historia,
Num antigo fogo de chão.
Onde os índios tomam chimarrão,
Contando proezas e vitórias.

 

O gado perdido nos campos,
Os minuanos laçavam,
Charruas já churrasqueavam,
Pra caçar, usavam a lança,
As índias faziam tranças,
Também o chiripá campeiro,
No inverno, o fogo no braseiro,
A lida já não era mansa.

 

Dos índios também herdamos,
A velha chama crioula,
O uso da canoa e cambona,
O amor à liberdade,
Respeito e hospitalidade,
O apego pelo pago,
O gosto pelo cavalo,
Tratado com igualdade.

 

Veio o homem branco,
Muitos eram mal feitores,
Há mando de estranhos senhores,
Falavam de outro Deus.
Mandavam esquecer os Seus,
Como forma de dominação,
Implantaram a escravidão,
Foi o fim do apogeu.

 

Veio à degradação,
A liberdade foi suprida,
Já faltava comida,
Logo vieram as doenças,
Numa mistura de crenças,
Veio o fogo do canhão.
Semeando a destruição,
Aumentando as desavenças.

 

Os índio eram valentes,
Valentes não virão escravos,
Vieram os sete povos,
A exploração se amplia,
Erva, charque e couro se produzia.
A população aumentava,
Com o branco e o negro se misturava,
Uma nova raça nascia.

 

Alem do oceano,
Num povo distante,
Berço dos atuais “ianques”,
A burguesia usou Madri,
Pra dividir o povo Guarani,
Pretendiam com a permuta,
Mandá-los pra terra bruta,
Pra muito longe daqui.

 

A demarcação começava,
Até que um índio valente gritou!
E seu grito, ao longe ecoou!
ESTA TERRA TEM DONO!
ESTA TERRA TEM DONO!
Era o Grito de Sepé.
Os Índios o seguiam a pé,
No sonho Guarani Republicano.

 

A Republica Guaranítica,
Que um dia foi sonhada,
Acabou numa emboscada,
Ali! Mataram Sepé.
Na batalha do Caiboaté.
Depois, numa chacina!
O exercito extermina,
Os comandados de José.

 

Depois do massacre,
Que ocorreu nas missões,
Os donos dos canhões,
Revogaram o tratado,
De que teria adiantado?
O sacrifício de Sepé!
Dos índios mortos em Caiboaté.
Se tudo lhes foi tomado.

 

Novamente os índios se organizam,
Com os Jesuítas que ficaram,
Igrejas, casas, colégios consertaram,
A sociedade coletivista,
Das cinzas ressuscita.
Os espanhóis, de novo expulsaram.
E os Jesuítas, de novo se curvaram,
Findava a primeira Republica Socialista.

 

Sem os valentes Guaranis,
A terra perdeu os encantos,
Portugueses, também não foram santos,
A expropriação aumentou,
A Inglaterra, não se importou,
Pra França, tava de bom tamanho,
Não importava, quem tinha ganho,
E tudo pra lá se levou!

 

A cuia, de novo roncou,
Volto ao mundo presente,
Ao meu redor, também tem gente,
Que brotou da seiva missioneira,
Juntos vamos cravar a bandeira,
Por que, ESTA TERRA! TEM DONO!
ESTA TERRA! TEM DONO!
É nossa pátria brasileira!